domingo, 3 de outubro de 2010

Quem tem boca vai a Romã - por Mario Mammana

É fato notório que a emergente classe média paulistana adotou o vinho como símbolo de sofisticação e charme. Muito marmanjo bebedor de rabo de galo, hoje enólogo autodidata, enfia o narigão na taça, respira fundo e sai com uma frase dita com o ar grave dos bons entendedores: -“É bem frutado hein?!” Um bom vinho, hoje, é tratado com adjetivos antes dedicados aos seres viventes, tais como “honesto”, “interessante”, “bom caráter”. Acho isso um pouco ridículo, mas não tenho nada contra. Evidente que gosto de um bom vinho. É bem melhor do que ir ao dentista, por exemplo. Mas nasci cervejeiro. Não nego a minha devotada atenção à loira que embala os sonhos da humanidade desde o antigo Egito.

Dito isso, é de se registrar que a cerveja está sendo redescoberta em São Paulo e, assim como o vinho, ganha fervorosos adeptos e ótimos bares especializados no nobre produto da cevada maltada. Pois bem, um desses bares fica um pouco escondido no miolinho da Vila Madalena e se chama Melograno (Rua Aspicuelta, 436), palavra que, na ancestral língua de Dante significa Romã. Sim, aquela fruta cheia de sementinhas vermelhas comestíveis, de sabor exótico e bom. Sim, a Vila Madalena ainda tem salvação!

O Melograno veio ao mundo com elevados propósitos: harmonizar o precioso líquido com comidinhas bacanas. E cumpre! Nada de pratos muito sofisticados mas criativos? Certamente! Sobretudo os crostinis e os sanduíches que utilizam a cebola caramelizada, as abobrinhas e o ragú de cordeiro de maneira bastante interessante. O cardápio de cervejas eu classificaria como o “estatuto do paraíso”. Sem exageros! O planeta está condignamente representado com o que nele existe de melhor. Mas, eu não poderia deixar de dizer, os preços (ouça-se o ruído de agulha de vitrola riscando um disco de vinil), não são lá muito convidativos. Fazer o que? Exceção feita à Charlize Theron, nada pode ser perfeito. Liguem não. Depois de uma certa idade a gente vai se transformando em Tio Patinhas. Não na fortuna mas na sovinice.

Por fim, pelo menos em outro aspecto existem motivos de sobra que justificam a visita ao Melograno. No final das tardes de domingo lá se apresenta o Futricando, trio de música instrumental brasileira da mais alta qualidade. Cláudio Duarthe, Pratinha e Pimpa embalam o fim do fim de semana e nos fazem acreditar que a segunda-feira não será assim tão ruim. Comemorei meu último aniversário lá e os convivas adoraram!

Mais uma dica dada, agradeço aos leitores pelas sugestões e adianto que pretendo conferir todas pessoalmente. Eu e meu companheiro Epoclér!

3 comentários:

  1. Graaande Mario Mamana, .... meu Rei, num tom baiano, e nada gay, hahaha...... Fenomenal, adorei. À propósito da questão analítica dos vinhos, às vezes escuto um fulano dizer: .... toques de baunilha, flores vermelhas, etc..... e me dá uma vontade de mandar uma piada, assim do gênero, ...toques de, .... deixe-me ver...., ah.... exame de próstata, hahahah......
    Grande abraço, ... e vamos sair pra beber.

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  2. Grande Mammana,

    Não sei se você sabe, mas há 4 anos deixei a vida etílica. Mesmo assim estou a fim de conhecer o Melograno.

    Fiquei sabendo dele na semana passada ao ouvir uma entrevista do Laerte Sarrumor. Ele comentou sobre o Futricando e também disse que ele, juntamente com alguns membros (argh! que palavra feia!)do Língua de Trapo, está se apresentando todas as segundas, às 19 horas, lá no Melograno. Eles fazem shows mais voltados para o humor. Se eu não for num domingo, irei numa segunda apreciar a "carta" de águas, refrigerantes e sucos do bar.

    Se eu estivesse ainda bebendo, ontem teria enchido a cara de raiva. A luta continua.

    Abraço

    PS.: Ia esquecendo, parabéns pelo texto.

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  3. Adorei o texto de estréia, quero conhecer o Melograno!
    Esse tal de Mammana (paga um "amadeirado" pra mim?)parece que escreve bem e vai tornar o blog ainda melhor!
    Abração, meu amigo,Mario!

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