domingo, 7 de novembro de 2010

Em algum lugar do ... - Por Mario Mammana

Já que na semana passada falamos de nostalgia, pode ser, apenas pode ser, que um dia você sinta muita vontade de discutir o fracasso da seleção brasileira na Copa de 54, com aquela derrota acachapante para a Hungria, ou o tsunâmico surgimento de Pelé e Garrincha, ou queira falar de Gagarin, Laika, a corrida à Lua, a guerra fria, ou o crime da Rua Toneleiros, Major Vaz, Carlos Lacerda e sua insidiosa campanha que culminou no suicídio de Getúlio, ou ainda sinta uma vontade incontrolável de discutir profundamente o cinema novo, a bossa nova, a nouvelle vague, Truffaut/Goddard......enfim, pode ser.

Eu não era nascido quando tudo isso aconteceu, mas se você sentir vontade de falar sobre esses fatos incríveis, o lugar ideal é o Bar Astor (Rua Delfina, 163).

Disse o filósofo Peninha que “saudade até que é bom, é melhor que caminhar vazio”. Pois no Astor pode-se matar a saudade dos gloriosos anos 50 e 60, a começar do climão que o bar tem. As colunas espelhadas, os lustres com ar retrô, a iluminação amarelada, tudo contribui para que a gente se sinta em algum lugar de 1958.

O cardápio é como um cartum do Amigo da Onça: clássico e profundo. “Boeuf borguignonne”, “strogonoff”, “beef tartar”, “linguado à meuniére”, “bife à parmigiana”, “filet à Oswaldo Aranha”, jurássicos da cozinha boêmia de São Paulo. Isso sem contar com os sanduíches e petiscos na mesma linha.

Os drinks preparados pelo Mestre Pereira são de sorver ajoelhado, dando graças aos deuses pagãos. Dry Martini, Bellini (inventado no Harry's Bar de Veneza, talvez o bar mais famoso do mundo), Chopp Original, enfim, feriado ensolarado em estado líquido!

E o balcão do bar, aahh, o balcão! Conta a história que os proprietários do bar o encontraram por acaso, no ano 2.000, num antiquário na Filadélfia, EUA, e por ele pagaram a quantia de 12 mil dólares. O balcão de 6 metros de comprimento veio para o Brasil de navio. Detalhe importante: foi construído em 1880 e pertenceu a um saloon, no Tenessee! Talvez Billy the Kid ou Wyatt Earp já tenham estapeado o seu tampo para pedir um uísque “off the rocks”! Sensacional!

Termino reproduzindo o texto que o site do bar veicula com propriedade:

O ambiente do Astor é um caso sério, desses bem pensados. Ele recria um espaço que nunca existiu, a não ser no imaginário coletivo. Provoca uma sensação de nostalgia, de um tempo em que nunca se viveu. Da cozinha à adega, do balcão centenário ao outro balcão, o de frios, tudo remete à boêmia em seu sentido mais filosófico.

Dar um pulo no Astor é fazer um agrado à alma, é viver a boêmia em sua plenitude. Todos os dias, naquela esquina, às 18h, as luzes se acendem e o mâitre Juca se dirige à porta. A viagem começa ali.


Ou seja, lá dá para discutir tudo o que eu disse no início, mas também dá para discutir a guerra cambial, as últimas eleições presidenciais ou o último gol do Ronaldo!

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