domingo, 14 de novembro de 2010

Meu xará ainda está lá! - por Mario Mammana

Mário, o de Andrade, morava na Rua Lopes Chaves, na gloriosa Barra Funda. Meus avós também moraram lá por muitos anos, num prediozinho hoje pintado de cor salmão!

Mário, o de Andrade, imortalizou a rua em alguns de seus poemas. Assim como eu adoro morar na Fradique Coutinho, parece que ele gostava muito de morar lá: “Quando eu morrer quero ficar, Não contem aos meus inimigos, Sepultado em minha cidade, Saudade. Meus pés enterrem na rua Aurora, No Paissandu deixem meu sexo, Na Lopes Chaves a cabeça. Esqueçam.”

Tudo na Rua Lopes Chaves transpira uma São Paulo que não existe mais. Desde o final da rua, que acaba na linha do trem, cujo muro servia de gol no futebol que se jogava sobre os paralelepípedos da minha infância, até os botecos pé-sujos de esquina e as casinhas erguidas nos anos 40, 50, 60....

Numa dessas casinhas (que depois se revela um casarão por dentro), mais precisamente no número 105, fica o restaurante “Bia Braga Sabores”, ou calorosamente conhecido como “Feijoada da Bia”. Difícil achar um lugar mais simpático!

Mário, o de Andrade, nunca foi lá e nem sua cabeça foi encontrada mas eu, seu orgulhoso xará, fui conhecer o lugar no último domingo a tarde, incumbido desta árdua tarefa de descobrir lugares bacanas para depois contar aqui.

Aos sábados a casa oferece uma, dizem, ótima feijoada, ao som de um grupo de chorinho. Aos domingos é o povo do samba que aparece, samba que tem robustas raízes no famoso bairro.

Uma roda capitaneada por alguns integrantes do ótimo grupo “Inimigos do Batente”, como o meu amigo Paulinho Timor, por exemplo, anima o almoço. Até o compositor Sílvio Modesto apareceu.

Para quem não é amigo do feijão, a casa oferece outros pratos da cozinha brasileira: bobó de camarão, filé de tilápia, e petiscos variados são boas opções. De sobremesa, são servidos sorvetes com calda de carambola, banana frita ou doce de jaca, entre outras maravilhas.

As cachaças mineiras, descobertas pela dona do lugar em suas andanças pelas gerais, são um convite ao exagero. Muito boas!

O velho casarão, decorado como uma casa de fazenda antiga, é extremamente acolhedor e uma varanda na frente, com algumas mesas, é um excelente lugar para assistir o domingo ir se transformando em quase segunda-feira.

Parece que alguns “famosos” já descobriram o lugar. Simoninha, Ignácio de Loyola Brandão, Dr. Dráusio Varella (garantia de que lá não se fuma de jeito nenhum, hahá, e que só se trabalha com produtos saudáveis), são alguns que costumam dar as caras. Mas não importa. Os “não famosos” são muito mais simpáticos, incluindo os falantes garçons!

Mário, o de Andrade, se vivo fosse certamente freqüentaria o restaurante. Imagino e adoro imaginar que em dias mais calmos ele até aparece por lá, entrando em passos lentos, quieto, passeando o olhar longamente em tudo até escolher uma mesinha no canto, meio isolada.

Como seria bom conversar um pouco com ele e saber como vão as coisas!

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