domingo, 5 de dezembro de 2010

Minha Alma Canta - Por Mario Mammana

Vejo o Rio de Janeiro...

Depois dos últimos acontecimentos na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão, o Rio está na moda. O Rio nunca saiu de moda. Para o bem ou para o mal. Acontece que, como para todo o paulistano cioso de suas esquisitices tipicamente paulistanas, o Rio é o meu alter ego. Só por isso eu já amaria o Rio. Não apenas por ser a necessária antítese de São Paulo, por ser seu espelho invertido, por ser o que nós não somos por excesso de culpa e de responsabilidade. Eu amo o Rio porque o Rio tem vocação prá ser feliz. E não tem vergonha disso! E ainda tem o samba! Covardia.

Além do mais, acho melhor ter os Arcos da Lapa como cartão postal do que a Ponte Estaiada, um mostrengo copiado de outras pontes pelo mundo desenvolvido afora. Mas antes que algum paesano mais enfurecido me pergunte: “porque você não vai morar lá então seu traidor?”, quero esclarecer que nasci aqui e, apesar dos pesares (vários pesares), também amo São Paulo. De mais a mais acho essa história de bairrismo entre Rio e São Paulo uma tremenda babaquice. Evidente que ambas são o Brasil, cada uma à sua maneira, que ambas se complementam, assim como Nova Yorque e Los Angeles, ou Madri e Barcelona.

Esta longa e enfadonha introdução é só para dizer que nos últimos anos assistimos em São Paulo a uma sistemática proliferação de botecos de “estilo” carioca. Ótimo. Poderia ser muito pior (imaginem uma invasão de botecos no estilo goiano, com duplas sertanejas a granel?!). Melhor copiar de quem sabe fazer boteco e faz dele uma extensão da praia. Dito isso, acho que é possível “ir” ao Rio de Janeiro sem passar por Congonhas ou pela Dutra. É só fazer um teletransporte no Bar Pirajá! (Avenida Brigadeiro Faria Lima, 64). Se existe uma embaixada carioca em terras piratininguenses, é lá mesmo!

Comecemos pelo chopp que é como se começa uma boa conversa. Quem já foi ao Bar Original, dos mesmos donos do Pirajá, sabe o quanto é precioso aquele líquido dourado que brota da chopeira. Pois o chopp é o mesmo e tirado com a mesma maestria e carinho. E as batidas?! O que dizer de um bar que ao contrário de ter uma carta de vinhos tem uma carta de batidas?! Para acompanhar essas maravilhas, fica realmente difícil escolher entre os petiscos. Tem um balcãozão com vários petiscos maravilhosos, mas os do cardápio são de escorrer uma lágrima de felicidade. Empadinhas de camarão, rãs grelhadas, lingüiça na cachaça, o famoso bolinho de abóbora com carne seca, croquete de pernil (Fio Maravilha), manjubinha empanada no chopp (Peixeiro Granfino), precisa mais?! Quem quer almoçar ou jantar também não se dá mal. Bons filés a Oswaldo Aranha, Pirajá (com queijo camembert e farofa de alho), a Pimenteira (ou “ao poivre” como se diz na Zona Sul), bacalhau, dobradinha, arroz a penafiel, milanesa a cavalo, já é?!!! E aos sábados a famosa feijoada da Tia Surica, uma das primeiras intérpretes do Príncipe do Samba, o bom e velho Paulinho da Viola. Aliás, sempre que estão na terra da garoa, é comum encontrar lá Ruy Castro, Beth Carvalho, Moacyr Luz, Nelson Sargento e outros cariocas ilustres renovando o visto.

Aos corajosos que se dispuserem a esperar uma mesa na calçada até a barba crescer num sábado de verão, uma cortina de maravilhas se abrirá. Daí é só imaginar que você está no Bracarense em pleno Leblon, olhar a avenida e imaginar o oceano atlântico até sentir a maresia. Não precisa nem caprichar nos esses e nos erres. Pode chamar o garçon de “meu querido” e soltar um “ôrra meu” de vez em quando.

Daí é só terminar a noite recitando Drummond em voz alta: “Rio antigo, Rio eterno, Rio-oceano, Rio amigo, O Governo Vai-se? Vá-se. Tu ficarás e eu contigo.”

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