domingo, 26 de dezembro de 2010

Pondo o Pé na Profissão (Parte Final) - Por Mario Mammana

Continuação ....... Após tantas e incríveis aventuras caí de paraquedas (e nunca mais saí) no Bom Motivo Bar. Daí a lista é enorme. Vamos por partes como diria o esquartejador: a começar do dono do estabelecimento, Roberto Lapiccirella, que também dava expediente de músico e cantor dos melhores, Waltinho, sambista de primeira e até hoje nas paradas, Maurício Anacleto, sensacional condutor de multidões (principalmente as femininas), Roberto Boca, de acento deliciosamente nordestino, o percussionista Maquininha, que não tem esse apelido a toa, Luís do violão, o mais admirado por todos, o sensacional Escobar, já falecido e que só aparecia para tocar depois da novela das oito, até ganhar um videocassete do dono do bar para chegar no horário, Carmem Queiroz, maravilhosa cantora, a sensacional pandeirista Roberta Valente, hoje “nas paradas de sucesso” com todo o merecimento, Iran Clayton, o mais simpático, Josias Damasceno meu parceiro (num samba só, infelizmente), pianista, violonista e cantor de levantar poeira, Mônica Salmaso, na época uma garota insegura e meio gorduchinha, o incrível (também infelizmente falecido) Ney Mesquita, um dos melhores cantores que já ouvi e meu ótimo amigo, Thaís Duque Estrada, amiga querida até hoje, na época uma menina de 17 anos que já esbanjava toneladas de talento cantando sambas que não eram da sua época e demonstrando uma cultura musical incomum, Oswaldo Bosbah, também amigo e parceiro (em várias músicas), prestes a lançar o primeiro CD, também um incrível músico e cantor, Ibys Maceió, talentoso cantor, violonista e compositor, também parceiro em vários sambas e que infelizmente voltou para o torrão natal, o meu “quase” parceiro e grande cara Roberto Simões, o meu queridíssimo parceiro (em uma música só) e talentosíssimo Wagner Brandão, pessoa doce e sensível que papaidocéu chamou cedo demais e por fim, meu irmão (até hoje Graças a Deus) Claudio Duarthe, violonista maravilhoso que não ia com a minha cara a princípio e depois se tornou meu grande amigo e parceiro em várias composições. Através do Cláudio me tornei amigo ainda do Pratinha, flautista e bandolinista sensacional, do Pimpa, o melhor pandeirista do pedaço, do Chico Filho, saxofonista excelente, do Adriano Busko, o percussionista mais criativo que conheci e do sensacional Adílson Rodrigues, arranjador de corais e crooner da ótima banda “Cometa Gafi”, que uma vez defendeu um samba de breque meu e do Cláudio, chamado “Nickname Brad Pitt” no festival de Tatuí e ganhou o troféu de melhor intérprete. Quantas histórias para contar....

Dos famosos fiquei amigo, na época, da genial Miriam Batucada e do “maior de todos”, Zé Kéti, a ponto de freqüentar a casa de ambos muitas vezes.

Mas a saga ainda não terminou! Tempos depois passei a freqüentar um bar vizinho ao Bom Motivo chamado “O Feitiço de Áquila”, nome pomposo para um lugar simples. O dono, Samir El Shaer, hoje compositor e realizador de trilhas para a TV, agitou o pedaço contratando bons músicos e convidando alguns famosos para se apresentar no bar. Zé do Bré, Renato Brás, Lula Barbosa, Fátima Guedes, Filó Machado, Carlinhos Vergueiro e principalmente o cara que se tornou muito meu amigo, Walter Franco. Quantas e quantas horas discutimos a vida e os rumos da música brasileira?! Além disso ele me convidou para cantar com ele a música “Me Deixe Mudo”, num show que ele fez no SESC Ipiranga e um dia me apresentou uma grande pessoa chamada Zé Ramalho, no camarim de um show do próprio. Bebemos uísque até de manhã. Sensacional! Além disso ainda existia as cantoras e os músicos amadores da casa. Zaira, Edilene, Solange, Gêmeos, Cacá, e tantos outros...

Também freqüentava, concomitante e democraticamente o sugestivo Música & Cia., dos meus queridos amigos Lúcio (já no céu) e Miguel Bargas. Quantas vezes fui lá escutar a banda do sensacional Kitú, cantor, guitarrista e pessoa da melhor qualidade!

Nessa época me tornei amigo (também felizmente até hoje) de uma cara daquele tipo que dá orgulho na gente só de mencionar o nome. Ítalo Perón. O que dizer de um violonista, arranjador, pensador da música, com o extenso e variado talento que ele tem?! Além disso, o filho dele, Fábio Perón, merece um capítulo a parte. Eu o conheci aos 5 anos de idade (!), tocando flauta doce. Naquele dia ele me disse com a inocência própria das crianças: “Mário, vamos montar um grupo de chorinho?”. O fato é que muitos anos depois, ele já encantando a todos no bandolim, realmente começamos a tocar juntos em várias ocasiões. Deliciosa história e ótimas pessoas.

Também por esses tempos me tornei ótimo amigo (até hoje) do grande Waltão Lacerda (no tamanho e no talento), excelente flautista e meu colega de turma na faculdade de direito, como logo descobrimos.

Ainda no Feitiço de Áquila conheci a maravilhosa Fabiana Cozza (a rima foi sem querer mas bem que poderia ser de propósito), que imediatamente se tornou uma grande amiga. Na época, uma menina de 20 e poucos anos, Fabi era uma força da natureza. Cantava (e ainda canta) com a propriedade e a segurança das cantoras com 40 anos de carreira. Um vozeirão de tremer as janelas e que encantou a todos desde o primeiro momento.

Tive o privilégio de acompanhá-la ao cavaco em muitos shows no Villagio, no circuito dos SESC´s e outros espaços da cidade até que recebemos a incumbência e começamos a organizar uma roda de samba no bar Ó do Borogodó às segundas-feiras. Conosco, vários músicos maravilhosos e hoje ótimos amigos. Ruy Weber, incomparável violonista e acima de tudo excelentíssima pessoa, João Poleto, flautista e saxofonista talentosíssimo, o gênio da turma, Ildo Silva, ótimo cara e ótimo cavaquinho e Cebolinha, batuqueiro de rara sensibilidade. Evidente que a roda pegou e pegou a ponto de parir o primeiro CD de Fabiana Cozza chamado “O Samba é Meu Dom”. Tive o privilégio de participar desse CD, acompanhando ao cavaco a faixa “A Morte de Chico Preto” (Geraldo Fiúme), sem contar com a glória de ter uma música minha gravada pela Fabi. É a faixa “Luzes” (em parceria com o já citado Josias Damasceno).

Através da Fabi conheci ainda outros ótimos músicos e amigos. Cito dois que são mais próximos: Douglinhas Alonso um garotão que destrói tudo na percussão e Marcos Paiva, baixista, arranjador e produtor musical de competência prá lá de comprovada.

Ao mesmíssimo tempo em que tudo isso acontecia, eu também participava do conjunto “É do Baú”, de samba de raiz, com meus caríssimos amigos Chico Médico (já citado), Carlão Amigão no violão de seis, Kika, destruindo tudo no pandeiro, Cebolinha na percussão e em algumas ocasiões com meu querido Paulinho Amaral (violão de seis) com quem formei ótima dupla e que anda sumido demais.

Isso sem contar com participações esporádicas porém muito aguardadas por mim no conjunto “Inimigos do Batente”, dos grandes amigos Fernando Szegeri e Paulinho Timor! Luxo total!

Logo depois disso tudo ou ao mesmo tempo, nem sei, tropecei e caí na porta do Bar do Cidão de onde também nunca mais saí.

Quantos músicos excelentes conheci por lá. Alexandre Arruda, trombonista fino, Paulinho Ramos no 7 cordas, Renato Vidal ao pandeiro, Alessandro Penezzi, grande violonista, Neto Amaral, cabra da peste e cantador dos melhores, Marcel do cavaco, isso sem contar que quase todos os anteriormente citados davam e continuam dando as caras no boteco. As canjas então, maravilhosas. Beth Carvalho, Dona Inah, Marcos Bailão, Hamilton de Holanda, Yamandú, Gabriel da gaita, enfim, um time da craques!

Mais recentemente freqüentei bastante o Tocador de Bolacha, dos meus queridíssimos Stella Guerreiro e Antonio Mineiro (aquele violonista que conheci no início do texto), cujos nomes até rimam. Lá, em vários anos de agradabilíssima coexistência, convivi com muitos dos músicos já citados. Que tempo bom!

Bem mais recentemente me tornei amigo do excelente violonista e compositor Floriano Villaça e do “bárbaro” compositor e cantor Rogério Santos, para meu orgulho, além das ótimas cantoras e professoras de música Regina Machado e Sônia Ruberti, o que prova que tem sempre lugar para chegar mais e mais gente boa! E muitos mais virão, certamente!

O fato é que até hoje estamos todos por aí, tocando e cantando pelas quebradas da vida. E pretendemos fazer isso muitos anos mais, afinal de contas, Cervantes dizia que “onde há música não pode haver coisa má” e Shakespeare colocou na boca de Cleópatra as seguintes palavras: “música, caprichoso alimento de nós que negociamos o amor”.

A todos estes fantásticos músicos, inclusive aos que cedo já partiram, aos famosos e aos nem tanto (porque esse país é assim, infelizmente), grandes amigos e grandes pessoas e a todos os outros que eventualmente omiti, mais pela senilidade galopante do que pela desimportância deselegante, o meu reverente “buana, buana”, o meu entusiasmado evoé e o meu “mais profundo e emocionado muito obrigado”.

2 comentários:

  1. Marião, arrasou, hein? Excelente descrição do Bom Motivo, nossa, me deu até vontade de aprofundar no assunto... como aprendemos por lá, não? qualquer dia preciso escrever sobre esses músicos todos, o Wagner, nossa.... ele fez uma música lindíssima pra mim, sabia? TEnho aqui em casa em fita cassete, preciso digitalizar isso. Como eu era fã dele, muito... enfim, arrasou. Minha trajetória é praticamente a mesma q a sua, com a diferença que comecei no Bom Motivo, em 1987... Enfim, fomos muito felizes ali. Adorei. beijocas

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  2. Oi Rô, obrigado pelo elogio! É, a história de todos nós no Bom Motivo foi muito legal e deu muitos frutos! Não sabia dessa música do Wagner! Aliás ontem estava conversando com a Thaís sobre isso. Eu também tenho uma fita com uma música inédita que fiz com ele (a única parceria nossa). Vamos recuperar isso?
    Beijo e Feliz Ano Novo!!!

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