domingo, 12 de dezembro de 2010

Tradição e Autenticidade - Por Mario Mammana

De quantos bares em São Paulo se pode dizer que são realmente autênticos e tradicionais? Cinco ou seis? Talvez nem isso?! Então s´imbora falar logo do Bar Léo! (Rua Aurora, 100). Quem nunca foi, vá! Mesmo porque o bar foi catalogado pela revista perdeuplayboy como um dos 5 melhores DO MUNDO! É brincadeira isso? Catalogações a parte (porque isso é papinho furado daqueles babacas metidos a bacana lá), não tenho freqüentado muitos bares por esse mundão afora mas o Léo é realmente show de bola. Numa escala futebolística (sempre aplicável nessas questões), estaria para os outros bares como o ataque da seleção de 58 está para as de 74 ou 90.

Posto que foi inaugurado em agosto de 1940, o bar completou recentemente 70 anos de existência. Uma marca invejável numa cidade em que tudo começa e acaba rápido.

Diz a lenda que começou sem nome. O primeiro dono, conhecido como alemão, não deu nome ao bar e algum tempo depois passou o estabelecimento nos cobres para um tal de Seu Leopoldo, conhecido como Léo. Daí a associarem o bar ao dono foi dois palito. Isso sim é autenticidade! E pensar que hoje os donos dão nomes do tipo “Bar do Juca” a bares caríssimos, que se esforçam para parecerem botecos, para ver “se pega”! Pois o Sr. Leo incluiu no cardápio pratos típicos da Alemanha e introduziu o chopp, na época uma bebida não tão popular quanto hoje. Fez um sucesso estrondoso! Além disso criou a novidade, hoje copiada por todo mundo, de servir almoço todos os dias, com pratos pré-estabelecidos. Outra bola dentro. Danado esse Seu Leopoldo!

Nos anos 60 quem assumiu o leme da casa foi o Sr. Hermes de Rosa que a comandou até ser convidado a servir chope no céu, em 2003. Hoje quem manda no pedaço são seus dois filhos.

Quem vai pela primeira vez ao Bar Léo certamente vai experimentar sensações que vão do puro prazer ao estranhamento total com algumas esquisitices. Comecemos pelas sensações de prazer mesmo porque, segundo Samuel Johnson, o prazer em si não é vício. O chopp é realmente sensacional. Talvez o melhor da cidade. E desde quando estive lá pela primeira vez, há muitos anos, percebi que os garçons já eram orientados a trazer mais tulipas sem que o freguês precisasse ficar acenando desesperadamente ou ameaçando o garçon de morte com a faquinha da manteiga, como acontece em alguns lugares. Esse esquema foi copiado por outros bares posteriormente, com a diferença de que no Léo eles esperam o seu chopp acabar antes de trazer outro!

A comida também é bacana! A começar dos canapés no pão preto, de rosbife caseiro, pasta de gorgonzola com copa, lingüiça defumada moída ou carne crua, os quais foram também copiados pelos inúmeros bares “alemães” que surgiram na cidade nos anos 70. Tem também bons bolinhos de carne, alguns salsichões (no bom sentido) e o famoso bolinho de bacalhau feito em edições limitadíssimas, apenas às quartas e sábados. É de quem chegar primeiro! Não conheço ninguém que tenha conseguido provar um sequer. Os pratos fixos semanais também são ótimos mas o cardápio é um samba do crioulo doido: do húngaro goulasch passamos à salada de batatas com salsichas, ravióli e bacalhau! Tudo muito bem feito e farto.

As esquisitices ficam por conta dos horários de funcionamento restritos (fecha às 20:30 durante a semana e às 17:00 aos sábados, não adianta chorar) sendo que aos domingos, nem pensar!

Dizem também que antigamente havia um código de moral imposto no bar pelo falecido Seu Hermes: quem fosse com a namorada ou esposa tinha que se comportar. Segurar a mão, tudo bem. Beijo, nem pensar. Se fosse de língua então, os fiscais da virgindade alheia convidavam o cabra a se retirar! Ah, e quem pedir chopp sem espuma é convidado a ir beber uma antártica na padaria em frente!

Para encerrar, o bar só acomoda 70 pessoas sentadas. Quem chegar tarde fica de pé, na calçada, em plena ZBM (ou mais conhecida como a zona do baixo meretrício) o que, convenhamos, não é de todo desagradável.

Superados todos os percalços só resta apreciar o ambiente mezzo boteco, mezzo bar alemão e concluir gravemente, parafraseando Humphrey Bogart, que “a humanidade está sempre três chopes atrasada”!



4 comentários:

  1. Marião,
    Uma vez fui lá numa puta galera... época de final de ano.
    3 amigos animados chegaram 11 da matina para garantir uma mesinha que fosse. Estavamos em mais de 20. Lá pelas 4 da tarde (eu acho) o cara do balcão pediu pra gente falar mais baixo. Vê se pode?? Mais baixo depois de umas 6 horas de goró ?
    hehehehe
    Ficamos até os caras nos expulsarem de lá. (lá pelas 18:00hs, quando fechavam), atravessamos a cidade e fomos fazer as saideiras no "Bar dos Cornos" no Jaguaré... Recanto Luso-Nordestino-Chifronésio... mas isso já é outro episódio.

    Abraços
    Rogerio

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  2. Rogérião, isso dá letra de samba hein?!
    Abraço!

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  3. Eu já comi o bolinho de bacalhau! Pronto já conhece um que comeu! Abração.

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