domingo, 23 de janeiro de 2011

Desgovernador Valadares - Por Mario Mammana

Existem bares que tem espírito e outros que não tem. É simples assim! E nesse caso cita-se o poeta e dramaturgo Jean Baptiste Gresset que disse que “o espírito que se quer ter estraga aquele que se tem”. Simples assim.

Desde os meus tempos de sub-17 eu freqüentava vez ou outra, com meus primos mais velhos, o Bar Valadares (Rua Faustolo, 463 – Lapa). Pode-se tranquilamente afirmar que é um bar que tem (e muito) espírito e é o espírito de Minas (royalties à cachaça homônima). Explico: o bar foi fundado em 1962 por cinco irmãos na cidade de Guanhães-MG (terra do meu amigo Antonio Mineiro e de pronuncia não recomendável aos fanhos), próxima a Governador Valadares. Daí o nome. Tempos depois migrou de mala, garrafas, cuia e panelas para a progressiva capital paulista.

Apesar da homenagem ao governador, poucas vezes na vida eu não saí de lá desgovernado! Isso porque a cerveja é sempre gelada e isso já é motivo mais do que suficiente para me desgovernar. Também porque os petiscos são excêntricos, inusitados e muito bem feitos.

Para falar deles é recomendável que se tire as crianças da sala. Também é bom que se alerte aqueles de estômagos mais sensíveis.

Os quitutes mais estranhos ficam por conta dos testículos de boi, comida de macho para machos, e dos testículos de galo, evidentemente bem menores. Na verdade os testículos seriam de touro, porque boi é o nome do touro justamente depois que lhe tiraram impiedosamente os testículos. Ambos são preparados à doré, à milanesa ou ao alho e óleo.

Essas doses cavalares (ou bovinas) de testosterona só podem resultar em mais libido. Pelo menos é o que todos gostamos de acreditar e o que explica ser, de longe, o prato mais consumido da casa pelos companheiros já, digamos, combalidos.

Para os paladares mais ortodoxos recomenda-se a codorna frita (aquele franguinho que não cresceu), chouriço ou jiló ao vinagrete. Não se pode dizer que sejam também petiscos assim tão difundidos e encontrados em qualquer esquina, mas são de lamber os beiços!

OK, se mesmo assim você ainda está se recuperando psicologicamente dos dois parágrafos anteriores, tente uma prosaica empadinha de palmito, que também é muito boa lá no Valadares.

O clima é de boteco de esquina porque, de fato, ele é um boteco de esquina, o que induz imediatamente à idéia de que não faria sucesso em Brasília, por exemplo (isso explica um pouco do espírito). Os preços, razoavelmente camaradas.

Para terminar, é bom alertar que bem próximo dali existe um Valadares genérico, filial do da Faustolo, mas não se iluda e prefira sempre o original que não deforma e nem solta as tiras, mesmo porque o glorioso universo das comidas afrodisíacas só é servido na matriz. Ah, e se provar os testículos, é bom evitar contar a história para aqueles amigos mais desagradáveis, que sempre farão piadinhas de péssimo gosto a respeito. Eu sei o que estou falando, acreditem!

2 comentários:

  1. Não esqueça das rãs, Marião. Dou fé ao dito e digo: é, junto com o Elídio, o melhor lugar do mundo para se comer (e beber, claro). Vejam algumas fotos, que beleza... http://tulipio.uol.com.br/node/153

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  2. Verdade Edu, esqueci das pobres das rãzinhas! Ainda bem que você lembrou e ilustrou!
    Abraço.

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