domingo, 27 de fevereiro de 2011

Na Casa do Santo - por Mario Mammana

São Cristóvão (em grego: Άγιος Χριστόφορος, em latim: Christophorus) é um santo venerado por católicos e cristãos ortodoxos, classificado como mártir morto durante o reinado de Décio, imperador romano do século III. Apesar de ser um dos santos mais populares do mundo, muito pouco se sabe sobre sua vida. Além de ser padroeiro dos solteiros (não posso pedir mais nada a ele) e motoristas, é nome de time de futebol do Rio de Janeiro, cuja maior glória e talvez única, já que seu último campeonato estadual foi o de 1926, foi ter revelado ao mundo o Fenômeno recém aposentado. Que me perdoe a sua grande torcida.

Em São Paulo o São Cristóvão Futebol e Regatas está condignamente representado por um boteco bacana, evidentemente chamado Bar São Cristóvão (Rua Aspicuelta, 533).

Nem que você não queira beber e nem comer nada o bar vale a visita. Você pode entrar, olhar as paredes e sair fingindo que não encontrou mesa vaga. Isso porque existem 3.500 fotos, flâmulas e camisetas, todos esses itens relacionados ao nobre esporte bretão.

Se você resolver ficar, vai se dar bem. Mas é aconselhável levar ao bar um ou mais amigos que sejam apaixonadamente desvairados pelo assunto futebol. Olhando as fotos nas paredes certamente as discussões vão surgir e quem odeia futebol vai ficar entediado. O gol “mano de diós” de Maradona, a linha média do Santos dos anos 60, com Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, o Botafogo de Didi e Garrincha, o Flamengo da era Zico, o Real Madri dos tempos de Puskas e Di Stefano, o Barcelona de Cruiff, Romário, Rivaldo, a gloriosa Academia alviverde de Ademir da Guia, a flâmula do Ybis Futebol Clube (o pior do mundo!), charges da revista Placar dos anos 70, tudo isso está lá! Para quem gosta da história do futebol, como eu por exemplo, o bar é um mini museu.

Se você resolver beber, não vai se arrepender. O chope Brahma é razoavelmente bem tirado e as cachaças são as bacaninhas de praxe. Se quiser comer também vai gostar. Os pratos são ótimos. Filé a Oswaldo Aranha, caldinho de feijão carioca, bacalhau desfiado com feijão fradinho e algumas massas e empadões goianos dão conta do recado e da fome.

Aos sábados uma feijoada bem boa é servida e aos domingos tem roda de samba com algumas figuras carimbadas do gênero. Mas em dias normais é possível encontrar a nata do jornalismo esportivo da televisão e do rádio. Já vi equipes inteiras da Globo, SporTv e ESPN se refestelando no chope. Nada mais óbvio! Certamente eles não freqüentariam um bar cujo tema fosse o empolgante curling.

O serviço é eficiente e simpático e o ambiente agradável e despojado. Tem, enfim, tudo para ser um bar a ser freqüentado regularmente. Os preços é que já foram melhores, mas depois da explosão de botecos nas vizinhanças a tendência foi que eles explodissem também. Portanto, cuidado!

Evite ainda os dias em que algumas bandas de jazz e de salsa se apresentam na casa (segundas-feiras, creio). O ambiente é pequeno e o volume da música ao vivo é compatível com o do Credicard Hall. Ninguém consegue conversar e nem se entender. Você corre o risco de levar um soco se disser alto a frase: “em 68 o Corinthians acabou com o tabu”!

No geral, entretanto, é um boteco altamente recomendável aos loucos por futebol (menos os nerds do programa de TV homônimo, peloamordedeus!), mesmo porque, como mui apropriadamente dizia Oswald de Andrade, “Quem negará ao futebol esse condão da catarse circense com que os velhos sabidos de Roma lambuzavam o pão triste das massas?”

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