domingo, 6 de fevereiro de 2011

Peixe Seco - por Mario Mammana

Piratininga, segundo Silveira Bueno, é vocábulo indígena que significa "peixe seco". Do tupipira: peixe; e tininga: seco. O topônimo teria referência aos peixes que morriam à margem do Rio Anhangabaú, depois que este transbordava pelas cheias (novidade), e findavam por secar expostos ao Sol. Também já compôs, como é fato sobejamente sabido, o nome de nossa cidade, São Paulo de Piratininga, um povoado que em 25 de janeiro de 1554 surgiu numa colina, para fugir das cheias talvez.

Também é nome de bar, e dos bem razoáveis (Piratininga Bar - Rua Wisard, 149), na ativa há quase 20 anos. Se alguém, da mesma forma que eu, pensa que bar de verdade tem que ter balcão, vai gostar de lá. E digo mais, já chorei dores de amores naquele balcão, disse impropérios, roguei pragas a ex-namoradas (que não pegaram, graças a Deus), tudo sob o atento e conivente olhar do bar men e do meu copo de uísque, que também me dava conselhos depois da oitava dose.

Antes da reforma que o descaracterizou, infelizmente, era um bar ainda melhor. Pequeno, escuro e com ar nostálgico, qualidades que caem bem a um bar (não estamos falando de ambientes hospitalares). Quando ainda se podia fumar lá dentro era possível cortar a fumaça com uma faca, se não fosse o perigo dela revidar (parafraseando L.F. Veríssimo). Mas hoje o ambiente interno é impolutamente ascético. Assim como o ar da cidade, que nunca mais teve problemas de poluição depois da proibição do fumo dentro dos bares.

Não vá lá para comer, fica dado o aviso. Vá para beber, como convém ao cenário. Não que a comida seja horrorosa. Não é. Mas também não é digna de grandes elogios. Tudo meio comum e sem borogodó. Já os bebes são bem bons. Tente a caipirinha de lima da pérsia ou os uísques honestos. Evite o chopp, servido em temperatura quase ambiente e sem espuma, como se tivesse sido tirado por sua sogra. A música ao vivo, no mezanino, não dá para ser evitada, mas bem que deveria. Já foi bem melhor. Hoje, é aconselhável levar seu ipod.

Outra sugestão: o Piratininga é um bar ideal para se ir sozinho e sem nenhuma vontade de paquerar ninguém (mesmo porque dificilmente você vai encontrar alguém). É o local ideal para beber bastante e chegar à conclusão de que você está fazendo tudo errado na sua vida, chorar, ficar nostálgico, falar sozinho sem que ninguém ache esquisito, escrever longas cartas de amor no guardanapo e depois jogar fora e esquecer tudo no dia seguinte. No máximo, leve alguém com quem você não queira ser visto, seja qual for o motivo (eu consigo pensar em vários). Acredite, ninguém vai saber!

Eu vou lá desde o tempo em que o bar reinava solitário naquele trecho da rua. Hoje o pedaço está bem mais agitado, inclusive com outras casas do mesmo dono (Pira Grill e Pira Sanduba), mas não tem erro: é o único bar que tem um Ford Phanton 1929 estacionado na porta (propriedade do dono do bar) e uns cinquentões grisalhos parecidos comigo, nas mesinhas da calçada. Mas não confunda: se eles estiverem falando da cotação da bolsa de valores ou do último jogo do tricolor, não sou eu!

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