domingo, 27 de março de 2011

Eu fui... e sai emocionado

A primeira coisa que comprei quando ganhei minha primeira mesada, por volta dos meus 12 anos, foi um LP de Choro chamado Pedacinho do Céu, onde vários compositores já falecidos - Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Waldir Azevedo e etc. - expunham suas obras. Como nunca fui influênciado por ninguém para gostar desse tipo de música, esse é meu único gosto que sei que é 100% meu. Não foi plantado em mim, simplesmente, essa preferência nasceu comigo.

Dias atrás - 24 e 25/3/11 - aconteceram 2 shows, no Sesc Pompéia, e recomendado por mim nos posts deste blog, semana passada. Esse show foi fruto de uma pesquisa e produção de Roberta Valente e Yves Finzetto. Conheço Roberta Valente há mais de 20 anos, quando ela ainda nem tocava pandeiro. Desde menina já tocava violão mas, certamente, a música entrou definitivamente na sua vida após o contato (e com o posterior casamento) com Roberto Lapiccirella. Lapi, como era mais conhecido, foi dono do bar Bom Motivo, que era uma espécie de Ó do Borogodó nas decadas de 80 e 90. Ele era pesquisador musical e, diz a lenda, que ele tinha todos os discos já lançados até a década de 70.

Talvez seja exagero, mas as paredes de LPs só com músicas brasileiras que ele tinha em sua casa, faz a gente achar que o exagero não é tão grande. Foi com ele que Roberta Valente mergulhou nesse universo da música e, nos dias de hoje, pegou emprestado o lado pesquisador dele para produzir o CD e o show Panorama do Choro Paulistano Contemporâneo.

Em vez de retratar os músicos já falecidos (como eu fiz aos 12 anos), ela foi atrás de todos os chorões paulistanos que estavam compondo choros em diferentes locais dessa cidade e os uniu em um único CD e em um único palco durante 2 dias. Foi, simplesmente, SEN-SA-CI-O-NAL.

No palco, seis músicos - componentes fixos do Panorama - convidavam os compositores para participar da roda formada. Os seis músicos iniciais eram: João Poleto (sax e flauta), Alê Ribeiro (clarineta), Roberta Valente (pandeiro e percussão), Yves Finzetto (pandeiro e percussão), Henrique Araujo (cavaquinho e bandolim) e Gian Corrêa (violão de 7 cordas).

Cada um dos convidados já tem uma vida musical extensa e já fazem seus próprios shows. Entre eles estavam Danilo Brito, Zé Barbeiro, Toninho Feragutti, Laércio de Freitas, Proveta (não presente por problemas de saúde, mas compôs uma música que está no CD), Alessandro Penezzi, Ruy Weber, Milton Mori, Israel e Izaías Bueno de Almeida, Edmilson Capelupi, Arnaldinho Silva, Edson José Alves, Luizinho 7 cordas, Everson Pessoa e Maurilio de Oliveira (Quinteto em Branco e Preto) e Thiago França.

O que mais me comoveu foi como esses grandes nomes da música, convidados por "garotos" do choro - 3 deles estão na faixa dos 20 anos de idade - estavam emocionados e se sentiam honrados em estar participando de um projeto tão bonito e comovente como aquele. Você via isso nas expressões e no nervosismo deles ao entrar no palco e participar do que é a maior reunião de chorões já feita nessa cidade.

Houve um filme, realizado em 2005, pelo diretor finlandês Mika Kaurismäki, chamado Brasileirinho, que retratava o choro em todo o Brasil. Mostraram o choro em Brasília, no Nordeste, no Rio de Janeiro, no Sul do país, em todo o lugar. Só se "esqueceram" de São Paulo. Sem querer rivalizar, mas isso é coisa de carioca.

Depois do que ví no teatro do Sesc Pompéia, esse filme virou uma coisa bonitinha de se ver, mas não pode ser mais chamado de documentário sobre o choro. Como excluir Zé Barbeiro e Luizinho 7 cordas ? Como excluir Arnaldinho Silva, que toca na roda de choro que existe há mais tempo no Brasil, a da Contemporânea ? Como excluir o maestro Laércio de Freitas ? Como excluir Izaías, do grupo Izaias e seus chorões, com mais de 50 anos de choro ? Como excluir tantos outros chorões que, se não são superiores a maioria dos que estão nesse filme, não fica abaixo deles ?

À Roberta Valente e ao Yves Finzetto, os meus parabéns por nos proporcionar um show maravilhoso que, infelizmente, foram pra poucos, mas fico feliz por que produziram um CD que deveria estar nas casas de todas as pessoas. E em posição de destaque.

Espero que venham muitos Panoramas por aí.

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