domingo, 13 de março de 2011

Na Praça do Antonico - por Mario Mammana

Talvez, apenas talvez, eu tenha nascido no Brasil por causa de um senhor barbudo que viveu no final do século 19 e início do 20, cujo apelido carinhoso era Antonico. Nas altas esferas sociais da época, entretanto, era conhecido como o Conselheiro Antonio Prado, filho da aristocracia cafeeira de São Paulo, abolicionista de carteirinha e grande incentivador da imigração italiana no Estado, para substituir de maneira barata os escravos recém libertos, como todos sabem!

Não à toa, ele virou nome de praça na cidade e uma das mais agradáveis, lá no centrão velho, bem ao lado do outrora cartão postal Edifício Martinelli. Eu simplesmente adoro o centro de São Paulo e, em especial, a Praça Antonio Prado (antigo Largo do Rosário) que já foi um lugar bastante sofisticado, com distintos senhores de cartola e bengala passeando com suas senhouras de vestidão e sombrinha. Que bom seria se os prefeitos gostassem da cidade como eu gosto e resolvessem recuperar o centro, como todos prometeram e não cumpriram, em vez de olhar apenas para os Jardins e para o Morumbi! Que bom seria se os prédios antigos parassem de ser derrubados para se erguer sei lá o que em seus lugares de direito. Mas o sonho não morreu. Quem sabe um dia?!

Pois naquela praça, em frente ao coreto, existe desde 2006 um imponente bar e cervejaria chamado Salve Jorge Centro (Praça Antonio Prado, 33), filial do homônimo bar da Vila Madalena.

O bar nasceu em homenagem aos “Jorges” famosos. De Benjor a Amado, passando pelo santo padroeiro daquele time cujo nome só pronuncio em último caso, todos estão representados em fotos e quadros nas paredes. Os lustres de cristal, enormes e imponentes, misturados com garrafas de cerveja penduradas dão um clima legal ao ambiente. O andar superior é melhor e mais animado. Sem contar que tem música ao vivo em algumas noites da semana e no almoço de sábado, mas a qualidade da música é mais irregular que o ataque da seleção brasileira.

As cervejas e o chope são razoáveis e o cardápio interessante (já foi mais). Massas, carnes, saladas e alguns petiscos dão conta do recado. Mas inexplicavelmente (nunca ouvi um argumento convincente) os preços do Centro são mais baixos do que o da sede da Vila Madalena, sendo que o bar do centro é infinitamente mais agradável, maior e melhor decorado. Vai explicar!!!
O serviço é, e sempre foi, extremamente simpático. Principalmente nos dias em que o bar não está muito cheio. Os garçons, em sua maioria, já passaram pela Vila Madalena e adquiriram o expertise e a simpatia do bairro.


Mas a grande e insuperável vantagem que o bar tem, na minha modesta opinião, é a praça que lhe empresta a morada. Nas horas felizes das sextas-feiras, por exemplo, dezenas de mesas são espalhadas na praça, por entre árvores centenárias, o coreto e as bancas de engraxates e beber ali, tendo como paisagem o já citado Martinelli, a antiga bolsa de valores, o prédio do ex-banespa e o início da avenida São João é uma das poucas coisas mágicas que a cidade ainda oferece. Sem contar que na hora do almoço o coreto abriga bons grupos de chorinho!

Nesses momentos é inevitável se desejar um túnel do tempo que nos levasse de volta à São Paulo de outrora, de plátanos nostálgicos e crepúsculos de seda japonesa, de longas ruas de casas baixas e de um triângulo provinciano, como destacou Sérgio Milliet.

Ou então, à São Paulo retratada nas paródias cheias de inventividade do escritor paulista Juó Bananere, que imitando os italianos recém chegados recitou: “Tegno sodade, ai de ti – Zan Baolo! Terra chi io vivo sempre n´um martiro, vagabundeando come um begiaflore, atraiz das figlia du Bó Ritiro”.

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