domingo, 29 de maio de 2011

A Divindade da Cerveja - por Mario Mammana

Brama é considerado pelos hindus como a representação da força criadora ativa no universo. Como todos nós estamos carecas de saber, a visão de universo pelos hindus é cíclica. Depois que um universo é destruído por Shiva, Vixnuse encontra dormindo e flutuando no oceano primordial. Quando o próximo universo está para ser criado, Brama aparece montado num Lótus, que brotou do umbigode Vixnu e recria todo o universo. Até aí tudo beleza. Brahma, já com o agá incorporado, é também uma cervejaria brasileirafundada em 1888, no Rio de Janeiro, pelo suíçoJoseph Villiger, com o nome de Manufactura de Cerveja Brahma Villiger & Companhia. A Brahma é talvez a marca de cerveja mais consumida no Brasil, e a quinta cerveja mais consumida em todo o mundo, pois encontra-se disponível em mais de um milhão de pontos de venda ao redor do planetinha azul.

No rebote da cerveja surgiu, no longíquo ano de 1948, o incrível Bar Brahma (avenida São João, 677), localizado na esquina mais famosa da cidade (com a Av. Ipiranga), alguns anos depois imortalizada na letra da Caetano Veloso, que compôs “Sampa” na cola da “Ronda” de Paulo Vanzolini. Como se sabe, Vanzolini não gostou muito da “citação” mas, pelejas autorais à parte, o Bar é um luxo só! Aos nativos da Paulicéia que não o conhecem, recomendo uma visita urgente sob pena de expatriação. Não conhecê-lo é o mesmo que ser parisiense sem nunca ter ido à Torre Eiffel, ser newyorker e nunca ter subido aos píncaros do Empire State, ser carioca e nunca ter levado uma bala perdida, ainda que de raspão!

O fato é que o imenso barzão passou por inúmeras fases durante sua longa existência. Glamour e derrocada. Glória e ostracismo. Chegou mesmo a ter as portas cerradas por dois ou três anos. Ressurgiu há poucos anos nas mãos de novos e endinheirados proprietários. E ressurgiu para assumir sua evidente aptidão de se tornar ponto turístico, o que não lhe diminui o brilho. Exceto quando um ônibus de barulhentos turistas para na porta e a chusma invade impiedosa e rapidamente o ambiente.

Tirando a segunda-feira, tem almoço todos os dias (pratos razoáveis) e a noite, algumas porções para acompanhar o bom chopp homônimo, além de massas, carnes, canapés, sanduíches, etc....mas esqueça tudo isso. O melhor do Brahma não está no cardápio. Está em seus quatro ambientes distintos: salão principal, a varanda, o Brahminha e a Esquina da MPB, todos eles com extenso e variado cardápio de música ao vivo. Esta é a verdadeira vocação do bar! E o cardápio musical é extenso. Além de bons shows de “stand up comedy” (que no Brasil há décadas já eram feitos de forma bem melhor por José Vasconcelos ou Juca Chaves, sem esse nome, mas que a macacada acha que é novidade importada dos states), diariamente se apresentam vários cantores e cantoras desconhecidos do público (a maioria muito bons). Ainda tem de quebra shows de grupos tradicionais da cidade, como Originais do Samba e Demônios da Garoa (às terças-feiras). Mas nada em São Paulo se compara ao que acontece no bar todas as segundas-feiras a noite. Um showzaço do maravilhoso, cintilante e esticadíssimo Cauby Peixoto que, do alto de seus exatos 80 anos de idade e 82 de carreira, ainda dispara com extrema e inacreditável competência sucessos como Blue Gardênia, Ne Me Quites Pas e a indefectível e inolvidável Conceição! Sensacional!

No mais, o que o bar oferece é uma decoração simples, porém aconchegante e bem classuda no salão principal. Os preços são razoáveis mas, depois de algumas doses, como diria o velho Cauby, “se subiu, ninguém sabe, ninguém viu”!

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