domingo, 8 de maio de 2011

Não é qualquer canto que se acha - por Mario Mammana

Através dos tempos, a esmagadora maioria dos nomes dos bares que conheci não guarda nenhuma relação com as características externas do estabelecimento e às vezes também com as internas, o que é mais grave. Um bar tem que dizer a que veio já no nome, sob pena de navegar pelos mares perigosos do estelionato etílico, fazendo uso de ardis para iludir os incautos, sedentos por boas novas e boas cervejas. Como toda a regra tem a sua exceção, esse não é o caso do bar “Canto Madalena” (Rua Medeiros de Albuquerque, 471). Ele encontra-se “cravado” justamente num canto de rua, que não poderia ser mais quina do que já é, sendo que ele não é um bar de esquina. Pelo menos não uma esquina convexa. É côncava. Não sei se me fiz entender, existem esquinas côncavas? Não importa. Esta não é a sua melhor característica.

Os motes do bar são o ambiente e a comida. Comecemos pelo último, só prá chatear. Comida com acento nordestino. Toda comida temática é traiçoeira mas no caso do Canto Madalena o risco é mais ameno. Na hora do almoço tem buffet. No jantar, excelentes escondidinhos, carne seca desfiada com farofa, costelinhas de porco de matar, baião de dois, porção de acarajés, arrumadinho, um mexidão nordestino que seria capaz de assentar azulejos sem argamassa, enfim, a lista é longa e boa. Além disso tudo, uma novidade bastante criativa entrou no cardápio há pouco tempo. É o contrário do escondidinho, chamado “amostradinho”, em várias versões com destaque para o de lula salteada sobre purê de banana da terra e o de ragu de rabada sobre polenta mole. Beeeem bacana!

Para acompanhar, as cervejas nacionais de praxe e um bem tirado chopp. Isso sem contar, é lógico, com uma extensa carta de cachaças de estirpe. Pronto! Nada mais é necessário.

Agora, para falar da decoração e do ambiente, é preciso empreender uma jornada memória adentro e lembrar dos detalhes que existiam nas casas de nossas avós. Pingüins de geladeira? Móveis antigos? Cristaleiras? Vasos de flores sobre toalhas de chita? Tudo isso e mais um pouco está lá, proporcionando uma sensação de conforto e aconchego bem perceptível. Afinal de contas, existe lugar mais amoroso e acolhedor do que a casa da vovó? Bem dizia o poeta Lauro Muller que o avô é o pai sem exigências e a avó, a mãe com açúcar!

Vá lá com tempo. O serviço não é um campeão de rapidez, mas também não chega a enfurecer. Sem contar que é extremamente simpático. Se possível, peça para ser atendido pelo discreto e altíssimo garçon Guina, excelente profissional que conheço de priscas eras do bar Bom Motivo e que sabe guardar todos aqueles segredos vexaminosos sobre os nossos porres do passado (quem não os tem que atire a primeira azeitona).

Como luxo extra, o bar oferece música brasileira ao vivo em alguns dias da semana e aos sábados no almoço, oportunidade em que é servida uma lauta feijoada, mas as poucas vezes em que ouvi música ao vivo lá, preferia não ter ouvido. Esse item precisa melhorar. Todo o resto compensa com sobras.

Ressalto por fim que não se trata de um bar de comida típica, razão pela qual conserva suas boas características. Talvez seja apenas um bar de comida brasileira e ponto. Por isso termino parafraseando Gilberto Amado, dizendo que “quem não gosta do Brasil não me interessa”.

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