domingo, 15 de maio de 2011

O Bar e o Botequim - por Mario Mammana

Parlamentarismo ou presidencialismo? Senna ou Piquet? Pelé ou Garrincha? Gisele Bundchen ou Juliana Paes? A cultura de exclusão que permeia o pensamento brazuca nos impõe escolhas e ardorosos debates de lado a lado. Como disse o pensador Oskar Morgenstern: “Há diferenças, e deve havê-las. Tudo menos uma paz podre; é preferível nenhuma vida”. Eu por meu turno, um fervoroso adepto do ecumenismo sem ser tucano, fico sobre o muro em várias questões. Mesmo assim desde tenra idade fiz algumas escolhas. Meu time por exemplo, ou minha opção sexual. Sempre com respeito por todas as outras. Nunca gritarei “Vai Curíntcha” e sempre preferi as maquiadas aos barbados, mas tudo deve ter lá o seu encanto. Alguns deles eu nunca conhecerei, mas também nunca irei ao Azerbaijão. Por mim tudo bem.

Há até quem encontre diferenças entre o que é bar e o que é botequim e tome partido de um ou outro. Em minhas pesquisas na internet descobri que são diferenças até que plausíveis, sem que isso me comova a vestir qualquer camisa. Alguns entendem que é possível levar a namorada num bar, mas nunca a um botequim. No bar geralmente há dois banheiros, masculino e feminino, e às vezes são limpos. No botequim tem um banheiro só, fechado a chave, sendo que o ambiente, no mais das vezes, é um grande condomínio de bactérias com piscina (a piscina delas). Um ambiente, como dizia Luis Fernando Veríssimo, que os ratos só freqüentam usando máscaras cirúrgicas. Outra diferença, que resvala um pouco no preconceito, é que no bar o cardápio é melhor, a decoração é mais apurada e as pessoas, geralmente bem vestidas, vão em busca de paquera ou boas conversas. No botequim, o tio do carreto bebe Pitú até cair pendurado no balcão, lançando impropérios a granel às moças casadoiras que inadvertidamente passam pela calçada. E sempre tem ovo colorido e uma mesinha de bilhar com o pano rasgado. Nem tanto ao mar, nem tanto a terra. Existe, nesse intervalo, uma zona cinzenta desmilitarizada. Botequins com alma de bar e, em muito maior número, bares com vocação inequívoca para botequim. O melhor deles, na minha opinião, é o Sabiá (Rua Purpurina, 370). Um bar de esquina com um indefectível ar de botequim paulistano, com chão de lajotas avermelhadas, azulejos brancos nas paredes, janelas vastas e um grande balcão, onde no passado funcionou uma padaria de muitos anos de sucesso. A freqüência, como não poderia deixar de ser, é de gente bacana e bonita, no melhor e legítimo estilo vilamadaleniano. Os donos sabem o que fazem. Stê e Léo, também proprietários do sensacional Ó do Borogodó (já contemplado aqui) e meu amigo Fernando Szegeri, companheiro de letras, lides forenses e rodas de samba.

A ditadura Frozô-Kassabiana imposta por nosso alcaide escoteiro manteve o bar fechado por muito tempo, sabe-se lá por falta de que documento ou propina, mas recentemente ele reabriu, enchendo os nossos corações de genuína alegria. Eu tive a sorte de estar lá na noite da reabertura, quando compartilhei com companheiros de fé uma ótima porção de moela acebolada e algumas cervejas. Falando nisso, o cardápio é impecável. Ainda não provei tudo mas, antes do bar ser fechado, era possível saborear, além da moela citada, língua defumada, fígado e sardinha à milanesa, além dos bolinhos de bacalhau, empada de camarão e outros petiscos que não podem faltar em botequim que se preze. Alguns pratos bacanas também fazem parte do cardápio. Para bebericar, boas cervejas e cachaças, chopp Brahma, jaipirinha (caipirinha de saquê) ou até mesmo o nosso querido rabo de galo, que tantas noites me acompanhou em minhas andanças pela cidade. Serei obrigado a voltar lá muitas vezes para detalhar melhor os produtos.

Para fechar a tampa, o botequim tem sim dois banheiros limpos e não tem mesa de bilhar. Ah, e o tio do carreto nunca apareceu por lá mas já aviso aos estagiários do Mengele que, se aparecer, será tratado com toda a dignidade.

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