domingo, 1 de maio de 2011

O simples não é fácil - por Mario Mammana

Sim Senhores, o tempo está mudando e o verão finalmente vai indo embora. Pensando nisso talvez seja o momento de se escolher bares mais intimistas, mais protegidos do perigosíssimo vento nas costas e mais de acordo com os tons acinzentados do outono. Um desses bares é meio escondido, meio tímido. Quem passa rapidamente na porta quase não percebe a sua existência. O nome dele já induz a uma certa antiguidade nostálgica: Platibanda (Rua Mourato Coelho, 1.365). E ele fica numa casa que “tem” platibanda que, como todos sabem graças a Houaiss, é uma “espécie de mureta construída na parte mais alta das paredes externas de uma construção, para proteger e ornamentar a fachada”. Aliás, é pela platibanda que se percebe que é uma casa construída certamente no início do século passado.

O ambiente interno é simples mas aconchegante. Chão de ladrilho hidráulico desgastado pelo tempo, um balcão antigo, vitrine de doces e salgados, rádio antigo na prateleira de onde a qualquer momento ouviremos Orlando Silva cantando na Rádio Nacional,.......parece aquela venda dos anos 60 em uma cidade do interior.

Para quem cultiva carinhosamente a bactéria imorrível da nostalgia, assim como este que vos escreve, o Platibanda passa a morar rapidamente nos cantinhos aveludados do coração. E do estômago idem. Os pratos que saem da cozinha poderiam ter sido feitos por minha avó, se ela não estivesse morando na cobertura. Filés á milanesa, massas clássicas, pescada branca com molho de camarões, rabada com polenta mole e agrião, língua ao molho madeira com purê de batatas e arroz, uma cozinha além de nostálgica, digamos, carinhosa!

Os drinques mais clássicos estão todos presentes, inclusive um bom dry martini e para acompanhar a boa seleção de cervejas, sempre em garrafas grandes, tradicionais, existem algumas boas porções das quais destaco o croquete de carne de panela. Mais “raiz” impossível. E as sobremesas também não inovam em absolutamente nada. Ainda bem. Quem não está com preguiça das experiências psicodélico/carnavalescas de jovens “chefes” adeptos da cozinha “fusion”? Quem não se aborrece em ter que experimentar sushi com maionese, ou posta de robalo com abacate, chalotas e sementes de papoula, com molho de redução de vinagre balsâmico e tequila? Vamos combinar que eu não sou crítico da Vejinha e nem almejo ser!

Voltando ao nosso assunto, como convém, a graça do Platibanda é que a clara opção que faz ao nostálgico não tem nada de estudado, de objetos antigos propositalmente colocados em cantos estratégicos, de falsa descontração. É uma nostalgia legitimamente desleixada e informal e é justamente aí que mora a bacanice. Talvez por isso, você nunca encontrará lá pessoas comuns nas mesas e nem atrás do balcão. Reparando bem, todo mundo tem um borogodó diferente, seja isso bom ou ruim, belo ou feio. Depende da lente que está focando. Os nerds e auto-intelectuais de plantão são sempre benvindos.

Na verdade, o que quero dizer e não consegui até agora é que é um bar que não pretende ser arrogantemente bacana. Será que me fiz entender? Ele está lá e é só. É o suficiente para algumas pessoas quererem conhece-lo.

Como sempre, peço a ajuda dos meus frasistas preferidos para concluir citando Eisntein que dizia que “tudo deveria ser tornado tão simples quanto possível mas não mais simples do que isso”. Ou então, melhor ainda, citando o escritor Roberto Alvim Corrêa que dizia que “o simples é o contrário do fácil”.

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