domingo, 19 de junho de 2011

BÄR DES DEUTSCHEN - Mario Mammana

Bem ali pertinho da sede do melhor time de futebol do mundo, a gloriosa Sociedade Esportiva Palmeiras, vários bares pulularam. Muitos deles para que os tifosi palestrinos comemorassem as altaneiras vitórias do Alviverde de Parque Antártica, hoje carinhosamente conhecido como porcooooooooo, entornando cerveja em quantidades maiúsculas. Até o nome do antigo estádio (que em breve dará lugar à cintilante Arena) induz ao consumo do nobre líquido. Isso porque antes que a Societá Sportiva Palestra Itália o adquirisse era um parque da cervejaria Antártica, onde no início do século passado os moçoilos de chapéu de palha iam passear com suas namoradas e beber cerveja! O local tem, pois, tradição no que diz respeito ao consumo do saudável e saboroso sub-produto da cevada.

Já bem mais tarde, em 1968, tempos da inesquecível academia de Ademir da Guia e Dudu, surgiu ali ao lado o Bar do Alemão (Avenida Antártica, 554). E já nasceu com uma iniludível vocação para perdurar no tempo.

Desde os primórdios o bar teve uma decoração bávara. Ela foi mantida até hoje. Dá a impressão de que Joseph Mengele vai entrar pela porta a qualquer momento e pedir um chopp e um salsichão geneticamente modificado. O ambiente é pequeno, com poucas mesas e tem um mezanino menor ainda. Mas é aconchegante.

O chopp sempre foi bom e para acompanhar peço sempre uma porção de canapés bem interessante. Mas tem também um bom churrasquinho (sanduíche), salsichões, omeletes e boas comidinhas alemãs. Já a música ao vivo, não tem nada de alemã! (meno male).

Segundo o economista e bandolinista Luís Nassif e minha amiga Roberta Valente, excelente percussionista e pesquisadora de texto impecável, o primeiro dono do Alemão, Murilo, fechava o bar oito da noite e depois disso só entrava quem era músico. O próximo dono, o pandeirista Dagô, elevou definitivamente o boteco ao patamar de reduto de boa música. Em suas mesas estiveram Cartola, Nelson Cavaquinho, Paulinho da Viola e Paulo César Pinheiro. É brincadeira?!

Hoje um dos donos é nada mais nada menos do que Eduardo Gudin, na minha opinião um dos principais representantes do genuíno samba paulistano e compositor inspiradíssimo. Garantia de que o bar tenha boa música todas as noites. E tem. Além das aguardadas e celebradas canjas de Gudin, o lendário percussionista Jorginho Cebion, o ótimo violonista da noite Valdo, Henrique ao cavaquinho e bandolim, a maravilhosa cantora Dona Inah, a pequena/grande percussionista Kika, o violão de Serginho Arruda e muitos outros mais estão sempre por lá, na mesa redonda ao centro do bar, cuja foto já foi até capa de disco do dono em priscas eras. Boêmia em estado puro! Quem conhece esses nomes sabe do que estou falando. Isso faz com que o clima reinante no bar, todas as noites da semana, seja de permanente festa, de roda de samba da melhor qualidade, salvo algumas raras e inexpressivas exceções.

Falando nisso, como todos os bares da cidade, o Bar do Alemão tem um probleminha: A quantidade de chatos que freqüenta o lugar é insalubremente excessiva e uma vez que o bar é pequeno a chatice se eleva à enésima potência. Tem tanta mala que parece o depósito da Le Postiche. Mas convenhamos, num honesto exercício de auto-crítica é forçoso reconhecer que todos nós temos um chatão morando aqui dentro (esse meu papinho mesmo é muito chato) e como dizia Guilherme Figueiredo no genial livro Tratado Geral dos Chatos, “todo indivíduo tem o chato que merece. É impossível chatear o chato. Dois chatos da mesma espécie não se chateiam”.

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