domingo, 26 de junho de 2011

Fiado Só Amanhã - por Mario Mammana

“Fiado é igual barba, se não cortar, cresce”, “Fiado só para maiores de 90 anos acompanhados dos pais”,“Fiado? Só em dia de feriado, que o boteco está fechado”. Quem nunca se deparou com uma dessas pérolas escrita no balcão de um bar põe o dedo aqui! Se o bar é o lugar onde a loucura é vendida em garrafas, o balcão é a sua alma. Sempre digo: Bar que se preze tem que ter balcão! E já expliquei o motivo. O balcão permite que você freqüente o bar desacompanhado, sem pagar o mico de se sentar sozinho à mesa. Simples! E o balcão ainda permite que você encha o saco do barman com suas dores de amores. Já foi um dos meus esportes prediletos! O que dizer então de um bar que é um imenso e serpenteante balcão? Sim, já dá pra notar que estou falando do famigerado “Bar Balcão” (Rua Melo Alves, 150).

Há mais de 15 anos ele sobrevive em pleno “jardins”, o que já é um feito notável. Isso porque é um bar pra lá de sofisticado e original. Como eu já havia adiantado, o bar é um balcão de 25 metros, com banquetas dos dois lados (idéia ótima!). A decoração é bacanérrima, com direito a uma tela autêntica do maior expoente da pop art americana, Roy Lichtenstein!

Da pequena cozinha, nada de muito substancioso ou original. Algumas opções de sanduíches no pão ciabata e só, pelo que eu me lembre. Para beber, boas caipirinhas e uma carta de vinhos de respeito, como convém a um bar chique dos jardins. Nada de chopeira e cachaças de estirpe. Isso porque ninguém vai lá com a séria e deliberada intenção de matar a fome ou de beber até cair. O propósito do bar, e isso salta aos olhos já na primeira impressão, é de que é um lugar para solitários com vontade de bater papo furado, ou um papo cabeça, dependendo de quem você conhecer lá.

O que ocorre é que essa história de um balcão com banquetas dos dois lados vai jogá-lo cara a cara com alguém que você nunca viu antes e isso é algo interessante. Ou pode ser um desastre. É uma questão de sorte! Dificilmente você se sentará frente a frente com uma moça que é a cara da Jéssica Biel, com o corpo da Juliana Paes, louca para beijar (e otras cositas más) o primeiro zé ruela que aparecer. Mas quando eu era solteiro (que isso fique bem claro) pude observar que as freqüentadoras são bem bonitas e interessantes.

Já li em algum lugar que o bar é freqüentado por gente “antenada”. Nunca vi um marciano e nem um híbrido de ser humano com formiga que justificasse as antenas, mesmo porque esse é um termo típico de críticos de jornais “antenados”. São pessoas no máximo “descoladas” (outro termo horroroso! Descoladas de que, meu Deus???!!!).
O que importa na verdade é que o bar é uma elegia à paquera e a paquera é a aquarela do amor! Mas é uma paquera em alto estilo, no nível “jardins”. Portanto recomenda-se trajes bacanas e um papo interessante, sem ser muito intelectual ou enfadonho. Não comente futebol e nem assovie um pagode sob pena de ser expulso. Tenha sempre em mente que na sua frente poderá estar sentada a mulher da sua vida, nem que seja por uma noite, e que ela deve ser, sim, uma moça inteligente, culta e viajada além de Miami ou Orlando.

Vá disposto, portanto, a praticar aquele outro esporte inventado pelos britânicos chamado “flirt”, aportuguesado para “flerte” (mais interessante do que o futebol e olha que eu adoro futebol). Por fim, lembre-se sempre da lição do grande Oscar Wilde que dizia que “a única diferença entre um flerte e uma paixão eterna é a de que um flerte dura um pouquinho mais”.

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