domingo, 31 de julho de 2011

Bacanaldo e Antiguécia - por Mario Mammana

Gosto de bares que não enganam, bares de verdade, que não são caça-níqueis e que tem alma. Gosto enfim de bares bacanas. Quem não gosta?! Mais bacanas ainda se forem antigos, daqueles que já funcionam no piloto automático e adquiriram todo o “savoir faire” da noite paulistana. Daqueles, aliás, que esbanjam esse “savoir faire”. Só um dono extremamente incompetente, um néscio com MBA, é capaz de levar à bancarrota um estabelecimento comercial que dá certo há 17 anos! Ainda bem que não é este o caso do Barnaldo e Lucrécia (Rua Abílio Soares, 207). Na lida desde 1994 o simpático boteco tem motivos de sobra para continuar existindo. Primeiro porque é um bar cujo modelão é o dos bares dos anos 70 e 80, hoje raros na cidade. Segundo porque continua preocupado em oferecer sabores e sons genuinamente brasileiros, o que é mais raro ainda nesta terra de amantes do sertanejo universitário, da fast food e do hip hop (ou seria fast fod e hip hoop?).

O bar nasceu pelas mãos de um simpático casal (Arnaldo e Lucrécia, mais conhecida como Lú e tempos depois dona do Bar da Ló, nos Jardins) que logo passou o boteco nos cobres. A decoração permanece a mesma, ou muito parecida com a do dia da inauguração, ou seja, é uma reprodução paulistana dos armazéns de secos e molhados do interior do Brasil. Pode ser do interior de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Paraná ou do Rio de Janeiro, porque o jeito é acolhedor, aconchegante, típico do Brasil de antanho.

O cardápio não foge à tipicidade da decoração. Petiscos brasileiros de estirpe inconfundível: pastéis (palmito, bacalhau, carne, queijo brie com damasco), caldinho de feijoada com torresmo, caldinho de mandioca, lingüiça dragão, mandioca frita com molho de carne moída (ui!), bolinhos de arroz, de queijo, de mandioca, bolinhos de feijoada (o que será isso meu Deus?!), sanduíches, filés aperitivo e saladas. Para entornar, cervejas (garrafas grandes) nacionais e sulamericanas, vinhos, whiskies e uma boa carta de cachaças e de caipirinhas (com destaque para as de morango com pimenta rosa e melancia com gengibre).

Nos dois andares do bar se ouve MPB ao vivo, no bom e velho estilo “um-banquinho-e-um-violão”, sempre com qualidade bem acima da média. Bons nomes já passaram por lá nos últimos anos. No andar de cima, casaizinhos trocam juras de amor à meia luz. No andar de baixo a azaração rola soltíssima e é exercitada em suas formas clássicas e consagradas, sem contra-indicações. Mas isso é mais para a garotada na faixa dos 30 e poucos anos.

Sempre que vou lá tenho a estranha sensação de voltar no tempo. A vista anuvia, o ambiente gira (depois de três cachaças então...) e parece que estou de volta aos meus 30 anos de idade (ô sodade!). Quem não se lembra daqueles barzinhos clássicos da Henrique Schaumann ou da Avenida Ibirapuera, época em que os maus filhos de famílias boas caçavam impiedosamente as meninas boas de famílias más?

O fato é que o Barnaldo fez história na noite da cidade e de certa forma ainda faz. É mais ou menos como o programa Castelo Rá-Tim-Bum, produzido no início dos anos 90 mas reprisado à exaustão anos a fio e por isso adorado por crianças de 2 a 18 anos de idade.

Pois por sobreviver assim é que o Barnaldo Lucrecia vai sobrevivendo mais ainda e atravessando as gerações, sempre com a mesma proposta e o mesmo jeitão. Parece que ele contraria a regra definida pelo grande poeta inglês Alexander Pope, que dizia: “Ano após ano rouba-nos algo todo dia...E acaba por roubar-nos de nós mesmos”!

Nenhum comentário:

Postar um comentário