domingo, 3 de julho de 2011

Quem Nunca Viu ..... - por Mario Mammana

O samba amanhecer? Vai no Bixiga prá ver, recomendaria o grande Geraldo Filme. Isso nos anos 60 ou 70. Hoje o bairro, que já foi reduto do samba e berço da querida Escola de Samba Vai Vai, é um nostálgico arremedo do que já foi um dia. De seu passado de glórias, de bairro boêmio da cidade, só restaram os antigos casarões. Os bares mais famosos, Café Soçaite, Boca da Noite, já fazem parte da história. Sim, após décadas de exploração desenfreada, de especulação imobiliária, de ausência de investimentos públicos que prestigiassem o evidente destino turístico do bairro, o querido Bixiga agoniza. Mas não morre! Como dizia o poeta inglês Samuel Butler, “quem está em baixo não pode cair mais fundo”.

Apenas um bar decente restou, para representar o inebriante passado da velha ladeira da Treze de Maio. É o Café Piu Piu (Rua Treze de Maio, 134). E continua pulsante desde a inauguração em 1983, em plena e agitada atividade, quase todos os dias da semana, com um público mais fiel do que um labrador abandonado!

Ao chegar na entrada temos a impressão de que é um lugar pequeno, mas após a primeira e única porta, um vasto salão se abre, com mezanino e tudo. O ambiente é escuro, como convém a uma casa de shows, mas a decoração (que não muda há muitos anos) é bacana e aconchegante. Um bar enorme, com muitas garrafas dispostas na estante iluminada (bacana), janelões com vitrais, mesas com tampo de mármore, é no mínimo um lugar diferente.

No departamento comes e bebes não foge muito do normalzão. O clássico dos clássicos provolonão à milanesa está lá! Ainda tem o tal de “latke”, que é um bolinho frito de batata ralada, escondidinhos, beirutes, sanduíches e bruschettas, mas fala sério, com a profusão de cantinas na vizinhança (algumas ainda boas), você não vai cometer o desatino de ir lá para jantar! Para beber, o-bom-e-velho-chopp-Brahma, cervejas long neck (para mim long neck é girafa), Pina Colada, Cuba Libre e caipirinhas. Pronto, é o que há de destaque.

Como acontece com vários bares aqui tratados, o forte da casa é a música ao vivo. Em seu enorme (para um bar) e super bem localizado palco já passou (e ainda passa) muita gente bacana. Mônica Salmaso em comecinho de carreira, Vanessa da Mata idem,....e tantas outras vozes hoje Globais! Lembro-me com nostalgia dos tempos em que a excelente banda de gafieira CometaGafi, dos meus amigos Adilson Rodrigues, Cláudio Duarthe e troupe, se apresentava lá um domingo por mês. Era sensacional. Hoje, a programação é variadíssima, para gregos e troianos, mouros e cristianos. Nas quartas tem de tudo, fado, jazz, etc, etc, com boas bandas em geral desconhecidas. Às quintas, sextas e sábados, classicões do rock para nós, os dinossauros que ainda lamentam que já não se fazem mais bandas como Led Zeppelin, Uriah Heep, Pink Floid, The Doors, Beatles/Rolling Stones, Deep Purple e outras tantas mais! Aos domingos a programação é variada e geralmente boa, com shows e eventos de escolas de música. No geral é tudo muito interessante.

Para finalizar, há alguns anos ouvi da boca da dona do Piu Piu uma história curiosíssima. Numa pequena reforma do bar descobriram que no subsolo há, intocado, um teatro antigo (do século 19 provavelmente), que nem os historiadores do bairro sabiam que existia. Na época a idéia era conseguir um patrocínio para restaurar, preservar e recuperar o teatro para shows, colocando no Piu Piu um chão de vidro (bem resistente evidentemente), para que as pessoas pudessem ver o teatro iluminado sob seus pés. Seria simplesmente maravilhoso se isso acontecesse! Porém, como eu nunca mais ouvi falar do assunto, acho que o patrocínio não veio, as autoridades não se interessaram (como de costume) e o projeto se perdeu. Mas o teatro, espero, ainda está lá!!! Pena que ninguém mais dá importância a isso! Pena!!!

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