domingo, 7 de agosto de 2011

Te dá Asas - por Mario Mammana

Não, a ornitologia definitivamente não é a minha ciência favorita, apesar de eu gostar de pássaros e já ter sido o feliz dono de um papagaio (com carteirinha do IBAMA) chamado Juvenal, em homenagem ao imortal garçom do imorredouro Bar Riviera. Mas é justamente a ornitologia quem determina que a Juriti é designação comum às aves columbiformes da família dos columbídeos, que ocorre do sul dos Estados Unidos até a Argentina e quase todo o Brasil, em matas, capoeiras, cerrados e pomares, de até 26,5 cm. de comprimento, plumagem marrom, peito claro, cabeça cinzenta e região perioftálmica azul.

Já a botecologia, ciência bem mais agradável e familiar (pelo menos para este cientista aqui), determina que A Juriti (Rua Amarante, 31) é um simpaticíssimo pé-sujo que existe numa travessinha da Avenida Lins de Vasconcelos, no Cambuci, desde 1957! E digo mais, na simplória placa da porta pintada a mão, ao lado da figura do pássaro em questão, carrega o merecidíssimo título “A rainha dos aperitivos e frutos do mar”! Bacana hein?!

Por dentro o bar é de uma simplicidade de fazer Mahatma Gandhi sentir-se um Donald Trump. Mesinhas de madeira bem simples, azulejos florais amarelos típicos dos anos 60 e um balcão já meio surrado pelo tempo, mas o que importa não é o suporte e sim o que está “sobre” o balcão! Alguém já reparou em pedestal de estátua?

Vá até lá com aquela fome de anteontem e, antes de se precipitar e fazer loucuras, observe e escolha com atenção entre os 32 tipos de “aperitivos” espalhados sobre o mencionado balcão. Codorna ao alho, ostras, rãs a doré, sardinha a escabeche e um bolinho de bacalhau apimentado de “lascá o cano”! Mas deixe um espacinho para a lingüiça calabresa “Joana D´arc” que, assim como a santa heroína francesa é preparada num fogareiro a álcool, flambada, incendiada e deliciosa!

Para molhar a goela as boas cervejas nacionais de garrafa grande (é melhor e não faz mal) e um bom chopp Brahma geladaço. Ainda tem o meu bom e velho companheiro rabo de galo, ou “cock tail” como preferem os emergentes anglicistas tupiniquins e uma batida de amendoim com licor de cacau que faz com que você comece a pensar bobagens! Quem precisa de Cialis? Aliás, nos fins de semana é muito comum ver na Juriti simpáticos senhores, moradores dos arredores, tomando sua batidinha antes do almoço!

Mas, uma vez que algumas pessoas acham que só existem bons bares na Vila Olímpia ou na Vila Madalena, é bom também falar sobre o bairro que existe em volta do boteco, o qual, diga-se de passagem é simpaticíssimo! Conhecido desde o século 16, o Cambuci é um dos bairros mais antigos que se têm registro na cidade. Alguns defendem que é de fato o mais antigo. Seu nome nasceu devido à grande quantidade de cambuci, uma árvore de boa madeira e com um fruto apreciado em infusão com aguardente, que existia no local. Ou seja, o bairro já carrega no nome uma referência direta à cachaça! Nos primórdios da São Paulo de Piratininga, passava pela região de Cambuci uma trilha que dava acesso ao Caminho do Mar, utilizado por tropeiros para chegar a Santos. Aos poucos, principalmente a partir de 1850, desenvolveu-se ao redor da trilha um pequeno comércio e algumas chácaras, sítios e fazendas. No passado, a região era considerada uma divisa entre a cidade e a zona rural. O que separava essas zonas era um córrego que existiu no lugar onde hoje é a rua dos Lavapés. Todavia, hoje, o bairro virou praticamente central. Mas continua respirando e transpirando o ar de seu passado, de uma São Paulo cordial que existe menos a cada dia. É que o passado, ora o passado, como diz Millor Fernandes é apenas o futuro usado.

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