domingo, 14 de agosto de 2011

VILMAAAAAAA... - por Mario Mammana

Quem não se lembra? Na abertura do desenho animado “Os Flintstones” Fred tira o tigre dente de sabre de dentro de casa. Logo após é o tigre quem o expulsa e ele fica do lado de fora batendo na porta e gritando “VILMAAAA”! A imortal criação de Hanna e Barbera embalou as tardes de muito marmanjo. Incluindo euzinho. Sempre quis ter um dinossauro de estimação, ou um carro com propulsão de sola de pé. Uma vez até tive um. Era um fusca tão enferrujado que quase fica sem o piso.

Sonhei muitas vezes com os filés de brontossauro que Fred e Barney devoravam e este sonho também se concretizou no dia em que encontrei alguma coisa bem parecida. Evidentemente foi no Sujinho – Bisteca D´Ouro (Rua da Consolação, 2038). Um barzão na fulgurante esquina da Consolação com a Rua Maceió.

A história do Sujinho é pouco conhecida. Não se sabe exatamente se nos anos 60 ou 70, era um simples boteco que, de repente, começou a servir algumas refeições. Os apelidos da espelunca pegaram. Sujinho, por motivos óbvios (quem o conheceu nessa época sabe o porque) ou o sub-apelido “Bar das Putas”, numa singela homenagem às corajosas moças de vida fácil (hãhã!) que faziam o “trottoir” nas redondezas, perto do Cemitério da Consolação ou na famosa “casa da luz vermelha” da “Tia Olga” (lugar preferido de 11 entre 10 adolescentes da época).

O filé de brontossauro ao qual me referi acima era uma bisteca bovina gigante, de 700 gramas de carne suculenta e osso, que até hoje é o carro chefe da casa e necessita de dois garçons para traze-la à mesa. A simples visão da imensa iguaria causa um inesquecível impacto e já satisfaz. Quantas madrugadas, pós aventuras e desventuras, fui até lá matar a fome antes do sono dos justos! Uma bisteca e a saladinha de repolho! É tudo o que um homem necessita depois das 3 da manhã! Certa vez o estado alcoólico era tão desesperador que adormeci sobre a bisteca, certamente achando que era o melhor travesseiro de pena de ganso com cheiro de churrasco do mundo!

O fato é que nos anos 80 o boteco, nas mãos de novos donos portugueses, se popularizou. Nos anos seguintes uma extensa reforma transformou-o num lugar um pouco mais apresentável e duas outras filiais foram inauguradas. Mas o Sujinho (que acabou se apropriando do apelido transformando-o em nome oficial) continua tendo uma indisfarçável vocação para a madrugada. Continua sendo um destino seguro para os boêmios esfomeados de plantão!

Além da bisteca já descrita a grelha do boteco ainda produz algumas outras maravilhas. Picanha, cordeiro, espeto misto e um pintado na brasa dos deuses, tudo em tamanhos dinossáuricos, que fariam de Fred Flintstone o mais feliz dos neandertais.

Mas liberte o T. Rex que existe dentro de você e ataque de bisteca, pelo menos na primeira visita. Acredite, se eu fizesse uma lista chamada “100 pratos para devorar antes de morrer” a bisteca do Sujinho figuraria em 7º, talvez 6º lugar.

Para bebericar, as cervejas nacionais de sempre em garrafas grandes. Não me lembro de muita coisa mais porque sempre estive lá na alta madrugada, em condições que não me permitiam beber um gole sequer.

Para finalizar, volto ao assunto da reforma. Sim, o bar ficou bem mais agradável e ganhou um andar de cima. Virou um Sujinho arrumadinho. Mas sou obrigado a professar a minha inevitável admiração pelo boteco pé-sujo. O Sujinho já foi um pé-sujo autêntico, com azulejos de péssimo gosto nas paredes, chão mais gorduroso do que cabelo de galã dos anos 30 e uma churrasqueira fumacenta na entrada, Saudade! Como disse Luiz Fernando Veríssimo, boteco bom é aquele onde os ratos usam máscaras cirúrgicas e as baratas fazem passeata na porta contra as péssimas condições de higiene!


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