domingo, 11 de setembro de 2011

Estado Interessante - por Mario Mammana

O fenômeno lingüístico do eufemismo sempre me intrigou. Desde pequeno ouvia meus pais e tios cochichando que fulano estava com “aquela doença” ou com “a doença ruim” (existe boa?). Hoje até vice-presidente e presidenta falam abertamente na TV que tem câncer e eu prefiro a verdade nua e crua, sem rodeios e sem meneios. Ou então ouvia dizer que sicrano se “amigou” com beltrana. Como assim “se amigou”? Pensava eu. Vai ver ele convidou ela para brincar, acabava concluindo, muito perto da verdade dos fatos!

Este eufemismo que nos empresta o título então, me intriga ainda mais. Que tipo de pudor havia no passado capaz de impedir alguém de dizer abertamente que uma mulher estava grávida? Era de bom tom dizer que fulana estava em “estado interessante”, ou pior, que estava com “pãozinho no forno” (avemaria!!!).

Gosto de pensar que estado interessante, para mim, pode ser qualquer outra coisa. Pode ser até um “estadão”, por exemplo. Óbvio que não falo do folhetim da família Mesquita mas sim do “Estadão Bar e Lanches” (Viaduto 9 de julho, 193). Isso é que é um estado interessante!

Para começar o papo o Estadão é o primeiro estabelecimento comercial da história da cidade a funcionar 24 horas ininterruptamente. Sim, soou redundante mas digo ininterruptamente porque já vi muito comércio com placa de 24 horas que fecha às 10 da noite e não funciona aos domingos. O Estadão funciona 24 horas mesmo! Numa cidade que se orgulha de não dormir, isso é uma cesta de 3 pontos! Aliás, dizem os cariocas que São Paulo nunca para porque não tem vagas suficientes de estacionamento. Concordo. Esta não é a característica que eu mais gosto aqui. Preferia que São Paulo fosse a cidade que não para de se divertir nunca! Fosse eu um nobre edil, proporia uma extensa baianização da cidade! Mas voltando ao assunto, o Estadão se auto intitula o “Cioran dos bares paulistanos”. Prá quem não sabe, Emile Michel Cioran (1911 - 1997) foi um importante escritor romeno que padecia da ausência de sono. Eu, que preciso de 5 horas de sono por noite, morro de inveja desse cara! Só de pensar que numa vida média de 75 anos acabamos passando 25 anos dormindo......não consigo imaginar desperdício de vida maior do que este!

Falando do que interessa, o carro chefe do Bar é nada mais nada menos do que um esfuziante, impactante, mirabolante e maravilhante sanduíche de pernil! Sim senhores, esse é um assunto muitíssimo sério! Há alguns anos um concurso de comida de boteco foi realizado para se eleger o petisco que melhor representava a cara da cidade. Ganhou o sanduíche de mortadela do Mercadão. Eu votaria, sem pestanejar, no sanduíche de pernil do Estadão!!! Por precisamente dez real é possível adentrar no reino das maravilhas culinárias, saboreando essa jóia de sanduíche muitíssmo bem recheado e temperado (com cebola, tomate e pimentão). Felicidade pura! Acompanhado de uma gelada então.....Já fechei muita noitada fazendo isso! Tem ainda as versões com queijo prato ou provolone, mas eu prefiro a versão 100% carnívora.

O cardápio ainda tem outros bons itens, mas nem sei se é necessário mencionar. Já que estamos no embalo, existem outros sanduíches (bauru da casa, americano, light) e bons pratos (picadinho, costela, carne assada, espetinhos de frango), mas registre-se que o Estadão é famoso apenas pelo sanduíche de pernil. Preferir outra coisa lá é o mesmo que ir ao Fogo de Chão para comer salada!

Para acompanhar as boas cervejinhas geladas de sempre. É só o que tenho a dizer!

Se quiser apreciar a fauna noturna da cidade, vá ao Estadão por volta das 4 ou 5 da manhã. Além do bar estar em plena atividade, com um ambiente animadíssimo composto por boêmios em fim de expediente, desocupados, prostitutas e bêbados em geral, é a melhor hora do dia para ingerir esta quantidade bestial de colesterol.

Por falar em colesterol, não se preocupe. Se você é uma pessoa trabalhadora, honesta e leal, enfim uma pessoa boa, seu colesterol só pode ser bom também!


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