sábado, 19 de junho de 2010

"Morreram" José Saramago

Eu sei que esse blog tem como objetivo o belo, o prazeroso. Nesse post vou escrever sobre isso, através da morte de um dos maiores escritores de lingua portuguesa de todos os tempo, José Saramago.

Gosto muito de ler, mas como sou muito ativo - até demais - não consigo, por muito tempo, ficar sentado, parado, me concentrando em apenas uma coisa. Tenho que fazer várias coisas, parecendo que não terei muito tempo para fazer tudo o que preciso, em uma vida só. Essa característica é fatal para um leitor, mas como gosto muito de ler, de tempos em tempos, me programo para ler algumas coisas que são imprescindíveis para o crescimento e o aperfeiçoamento dos nossos valores.

Houve 3 autores que me influenciaram muito em todos os meus pensamentos atuais.

Como sou ateu, me permito ler de tudo. Já li o evangelho, já me referenciei na linha calvinista, budista e etc., mas o que mexeu comigo, muito fortemente, foi um rabino chamado Nilton Bonder quando fez a trilogia: a Cabala da Comida, a Cabala da Inveja e a Cabala do Dinheiro. Essa última virou minha vida pelo avesso e, até hoje, sigo essa linha de pensamento na minha relação com o dinheiro e a prosperidade das pessoas. Em minhas palestras, constantemente, conto a primeira estória descrita nesse livro que, para mim, é a mais bela que conheço.

Minha segunda maior influência foi Nietzsche, talvez o mais discutido e polêmico filósofo de todos os tempos. O banho de sabedoria quando você lê "Assim falou Zaratustra" é incontestável. A dissertação sobre a "morte de deus", em Gaia Ciência, é uma obra-prima. Ele diz que, quando se assume a morte divina, seria como se se livrasse dos ídolos e das "regras" do passado e que deveriamos assumir a liberdade plena, nos tornando nossos próprios deuses. Nietzsche, sabia que muitos não quereriam enfrentar tamanha liberdade e responsabilidade e que prefeririam "ressucitar deus" a todo o custo para ter quem diga como fazer, como julgar e como traduzir o mundo, eliminando as próprias interpretações. Para um ateu convicto como eu, os textos desse filósofo geram orgasmos múltiplos.

Finalmente, Saramago conseguiu fazer eu acreditar que o imaginário e o real não são muito diferentes e que, independentemente do que vier a ocorrer, o mundo agirá sempre da mesma forma, com os mesmos pensamentos e ações. Não importa se a Península Ibérica se desgrudar da Europa e começar a navegar pelo Atlântico - como em Jangada de Pedra - ou se vier a existir uma pessoa fisicamente igual a mim - como em o Homem Duplicado - ou como se existisse uma única pessoa responsável por registrar quem está vivo ou morto - como em Todos os Nomes - ou se existisse um vírus que cause cegueira temporária e passasse de pessoa para pessoa - como em Ensaio Sobre a Cegueira.

O que importa é que esse homem conseguiu com seu pessimismo - tão idolatrado por ele mesmo - fazer com que as pessoas se permitissem a pensar um mundo diferente. Nosso mundo atual, que por ele é considerado péssimo, deveria ser constantemente reformado.

Ele dizia que a palavra mais bonita da lingua portuguesa era a palavra NÃO. O NÃO faz com que a pessoa que o recebe, repense o pedido, busque novas alternativas e tente fazer outras coisas ou a mesma coisa de modo diferente. O SIM é muito subserviente e conformista, não gera turbulência interna e ação, as coisas ficam no mesmo lugar, inanimadas. E isso, para um mundo péssimo, como o nosso, seria mortal para a humanidade como um todo.

O que todos os meus 3 escritores tem em comum, é o de enxergar um mundo diferente, um mundo de relações responsáveis como o do Nilton Bonder, um mundo de liberdade e superação como o do Nietzsche e um mundo onde não existe separação entre o real e o imaginado como o do Saramago.

Morreu o Sr. José - de Todos os Nomes - e todos os Saramagos dispostos em seus personagens. Não morreu apenas um homem. Vários homens morreram com sua morte única. Só posso dizer que "Morreram José Saramago".


Como todos os citados acima desejavam e desejam um mundo melhor. Abaixo tem um vídeo que mostra uma das formas do nascimento do preconceito em nossas vidas. São 18 minutos de uma palestra que consegue fazer com que nós sejamos pessoas mais evoluidas. O vídeo possui legendas em português.
Clique em "View Subtitles" para escolher a legenda, aperte o play e aproveite.

3 comentários:

  1. Morreram José Saramago é antes de tudo um lamento para o mundo e muiiito mais para os povos de lingua portuguesa. Um grande pensador principalmente por que era irreverente no pensar e no colocar do NÃO. Ao exaltar o NÃO, ele exaltava a liberdade do ser individual diferente do todo e a diversidade. Quando se é diverso se diz não para o igual. Pois assim que somos - diferentes EM TUDO e no todo. Adorei sua reflexão sobre a morte do José Português Saramago.

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  2. Seu texto sobre as mortes de Saramago cumpre seu intuito de falar do belo. O pensar o mundo de formas diferentes e não aceitar os papéis impostos impõe a responsabilidade individual pelo mundo em que vivemos. E nos coloca como agentes. Por não aceitar os papéis impostos também sou atéia convicta. E para assumir minha responsabilidade individual e meu papel de agente de mudança estou a caminho da Tanzânia.
    Saramago será sempre parte da minha vida por sua rejeição ao caminho mais fácil e pela inteligência de suas reflexões. Adorei o texto :)

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  3. Eu tentei comentar o vídeo aqui, fantástico, mas acabei escrevendo tanto que o assunto se tornou um post no meu blog :)
    Aproveitei para recomendar seu blog lá e inserir o link de seu post sobre Saramago.
    Excelente! Obrigada!

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