domingo, 4 de setembro de 2011

Arame Esticado - por Mario Mammana

Imagine-se sendo uma velha calça jeans desbotada. Depois de algum uso e esforço você vai parar num cesto de roupa suja, com cheiros inimagináveis, é chacoalhado, ensaboado e torcido, até ser dependurado pelos fundilhos para secar. Devem ser sensações desagradáveis! Ainda bem que as roupas são objetos inanimados. Exceção feita àquelas que se escondem sozinhas quando você mais as quer usar ou as que encolhem de madrugada, dentro do armário, só para você ter a impressão de que engordou no dia seguinte! Sacanagem pura!

Na verdade, essa introdução esquisita é só para entrar no nosso velho assunto, porque hoje vou falar de um bar com um nome bem esquisito, chamado Bar Varal (Rua João Moura, 739).

Se você passar com muita pressa pela rua, não vai achar o bar. É uma portinha com uma imensa escadaria atrás. Tenha em mente que o boteco se situa entre o antigo endereço do Clube do Choro (ai que saudade!) e o glorioso Grupo Escolar Godofredo Furtado (entra burro e sai tarado), onde tive a honra de cursar o extinto curso primário. Lá se vão décadas mas, nossa, parece que foi terça-feira passada!

Se você achou o bar é um bom sinal. Você ainda está sóbrio. No fim da escadaria um salão escuro, com algumas fotos de ilustres na parede, um balcão ao fundo e um palco com uma pesada cortina vermelha como cenário. Com certeza o nome Varal tem uma conotação geo-pilheriosa. O bar fica literalmente dependurado no segundo andar! É isso. Mas tem muito mais!

Não estou falando dos comes e nem dos bebes. Até aí tudo muito normal. Algumas porções, filezinhos aperitivo, frios, sandubas e o trivial. Capirinhas e cervejas nacionais para debulhar a tristeza. Na verdade estou falando da música que é sempre muito boa.

Estive lá em situações bastante específicas. Primeiro quando minha querida amiga e excelentíssima cantora Thaís Duque Estrada (sim, descendente do velho Osório) foi se apresentar lá e me chamou para tocar junto com o grande Luisinho Sete Cordas. Alías ela se apresenta lá uma vez por mês. A primeira impressão do bar foi bastante positiva, não fosse o sobe e desce das escadas para ir fumar lá fora (mas isso não é culpa do bar). Se o pulmão padece, pelo menos fortalecemos as pernas!

Estive também, numa outra oportunidade, para ir ver meus diletos amigos Adílson Rodrigues, o crooner das multidões, Cláudio Duarthe, Fernando do baixo e Chico Filho nos sopros, num show em que só rolou Chico Buarque e Noel (compositores sem nenhuma importância no cenário musical brasileiro).

De uma outra feita cai de paraquedas lá num domingo e estava rolando uma ótima roda de samba gerenciada por meu amigo e ótimo violonista Paulinho Grassmann. A roda acontece todos os domingos e só eu não sabia.

Enfim, todas as vezes em que lá estive a música foi excelente, o que dá um aproveitamento de 100%! Pudera, o dono do pedaço, Dico, também é músico e fica muito transparente o fato de que ele sonhou ter esse bar por muito tempo, certamente pensando: “se um dia eu tiver um bar só vai tocar música boa”! Quem nunca pensou isso que atire o primeiro CD do Luan Santana.

Sei, por acompanhar a página do bar nas famigeradas redes sociais, que outros bons músicos e cantores se apresentam lá semanalmente. A julgar pelo que já vi, vá sem medo de ser feliz. Principalmente se você não tiver problemas com escadas estreitas. E não se preocupe em reservar mesa, afinal de contas, como dizia Webster, “no topo sempre há lugar”.

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