domingo, 17 de abril de 2011

Onde Chegou a Conversa - por Mario Mammana

Na minha já extensa carreira de advogado, creio possuir tempo de janela para permitir certas concessões aos meus clientes. Os mais engravatados e desconhecidos eu atendo no escritório. Porém, para alguns poucos clientes amigos e, portanto, menos exigentes, ofereço a agradável perspectiva de atendê-los nos bares próximos de minha casa. Torna tudo menos solene e, convenhamos, eu já estou na idade de dispensar certas solenidades. A prática, às vezes, é até recomendável. Em casos de divórcio por exemplo é importante que o cliente tenha logo à mão as suficientes dosagens alcoólicas que lhe permitirão abrir o jogo sem reservas, contar todos os podres do cônjuge, sempre o bandido (a) da história e chorar as pitangas. Por isso, elegi alguns bares como a extensão do meu escritório (que a OAB não leia isso!). Um deles é o “Galinheiro Grill” (Rua Inácio Pereira da Rocha, 231), com a vantagem de que ele se encontra exatamente na esquina da minha casa.

O poeta inglês Samuel Butler disse certa vez, cantando de galo, que “a galinha é apenas uma maneira de um ovo produzir outro ovo”. O poeta não teve a oportunidade de provar o que o Galinheiro faz com as penosas em questão. Uma enorme grelha vertical assa dezenas de frangos ao mesmo tempo, todos com um tempero inconfundível e excelente (segredo da casa) e com aquele irresistível sabor de churrasco. Para acompanhar, polenta frita cortada em cubos (eu prefiro sem parmesão), ou ótimas saladas.

Da grelha também saem outras preciosidades. Lingüiças toscanas ou calabresa apimentada, picanha, espetos mistos, cupim, baby beef, costelas de boi e de porco e uma excelente fraldinha ao alho que é de lamber os beiços (até os dos outros). Tudo em porções inteiras ou em meias porções (beeeem fartas).

Além de algumas poucas cervejas importadas (as uruguaias), eles servem as nossas de sempre. Para a entrada arrisque uma porção de “samossas”, um pastelzinho asiático de carne com curry que é muitíssimo saboroso.

No início dos anos 90 o Galinheiro começou numa portinha e com o passar do tempo foi se expandindo para várias casas vizinhas até ocupar uma esquina inteira. Hoje é um megaboteco com 400 lugares. O ambiente é despojadíssimo, daqueles em que se vai de bermudas ou até de biquíni (exagero mas bem que seria bacana), dependendo do calor. Mas nos almoços de sábado e domingo convém chegar cedo. Antes que se possa pronunciar a palavra galináceo as mesas são rapidamente ocupadas e o lugar lota. Principalmente as mesas de calçada, as mais disputadas. A espera é longa e a estrada é difícil. Ainda mais se for dia de clássico no futebol, animadamente acompanhados nos vários telões.

Tamanho sucesso se deve, principalmente, à qualidade do franguinho na brasa (carro chefe), à descontração do ambiente de “sítio do vizinho” e aos preços, que sempre foram camaradas. Foi o primeiro boteco da Vila Madalena no estilo “grill” e se, segundo Shakespeare, “o galo é o trombeteiro da manhã”, no Galinheiro as galinhas são as top models da hora do almoço.

Principalmente aos sábados à tarde, adoro fazer a feira que existe na próxima esquina e depois parar por lá, com o carrinho repleto, para o franguinho nosso de cada fim de semana. Ou então comprar um para comer em casa, aos domingos, acompanhando o macarrão com molhos “ao pesto”, “a bolonhesa” ou “posillipo” (tomate, cebola e bacon em cubos), os quais são, modestamente, a minha especialidade culinária. É sucesso na família!!!

Tirando isso tudo, é bom sentar nas mesas da calçada nem que seja só para beber e bater papo furado vendo a vida passar, afinal de contas a conversa chegou no Galinheiro!

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